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Não investigar riscos do zika após sua descoberta na África foi descaso da indústria

ENTREVISTA COM ROBERTO MEDRONHO
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A Organização Mundial de Saúde (OMS) convocou para o dia 01 de fevereiro, uma reunião de emergência para tratar da epidemia do zika no mundo. De acordo com a OMS, o zika vírus está se propagando de forma explosiva, e já atinge 23 países. A Organização estima que haverá entre 3 a 4 mil casos da doença em todo o mundo.

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A reunião tem por objetivo encontrar meios de reduzir o aumento de casos da doença.  A diretora-geral da OMS, Margaret Chan, defende a troca de informações sobre o surto da doença, e diz que ainda há muitas incertezas sobre a zika, o que dificulta seu controle.

A Organização Mundial de Saúde acredita que a epidemia vai se espalhar pelas Américas, com exceção de Chile e do Canadá, e alertou que a China e outros países com casos de dengue devem ficar atentos sobre possíveis infecções por zika.

Em entrevista exclusiva para Sputnik Brasil, o Infectologista, Epidemiologista e Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Medronho, disse enxergar a rápida propagação do zika vírus pelo mundo com muita preocupação.

O infectologista explicou que  o vírus da zika foi descoberto em 1947, na África, mas que após a recente epidemia na Polinésia francesa, entre 2013 e 2014, houve uma disseminação para o Brasil e diversos outros países, principalmente do Continente Americano. Além disso, surgiu o agravante do zika poder ser a causa da microcefalia, malformação do cérebro de bebês durante a gestação.

“A novidade que descobriu-se foi que a zika, até então uma doença branda e leve, em muitos casos assintomática, poderia causar graves alterações no feto de uma grávida, e consequentemente lesões neurológicas graves, levando a microcefalia. Nós temos um quadro muito preocupante de disseminação do vírus, por conta dessas alterações que podem ocorrer, especialmente no feto. É um grande alerta para as gestantes.”

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Roberto Medronho criticou o fato dos riscos do zika terem sido subestimados. Como era uma doença limitada apenas ao continente africano, não houve interesse na ocasião, por parte da indústrias, de realizar investimentos para descobrir drogas antivirais ou vacinas que pudessem deter o avanço da doença.

“Ela atingiu o continente africano, que tem um mercado pequeno, e não houve esse investimento. Infelizmente, ele se disseminou pelo mundo todo, e agora estamos todos nós, especialmente as entidades governamentais do mundo inteiro, como a Organização Mundial de Saúde, tentando mitigar um problema que poderia ter lá, em meados do século XX, iniciado um estudo sério. Nós não teríamos tido essa preocupação agora. O problema é que as pessoas, e especialmente as indústrias, pensam muito mais no lucro, do que no benefício da sociedade.”

Diante do descaso das indústrias quanto aos riscos da disseminação do zika vírus no mundo, o médico não acredita no desenvolvimento de uma medicação eficaz antes de um período de cinco anos.

“Nos próximos cinco anos, eu acredito que não tenhamos uma vacina, ou uma droga antiviral. Apesar de haver toda uma preocupação para colocar um remédio  no mercado, em casos muito graves como, por exemplo, do ebola, houve a disponibilização de alguns produtos pulando algumas etapas necessárias para garantir a segurança e a efetividade do produto. No caso de gestantes, que é uma situação de muita gravidade, pode ser que ajude a acelerar o procedimento e disponibilizar no mercado um imunobiológico, ou um antiviral, para que nós possamos reverter esse quadro dramático de lesões neurológicas graves na criança.”

Roberto Medronho informou que a faculdade de medicina da UFRJ, juntamente com a Coppe – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, e os institutos de microbiologia, pediatria e química criaram um grupo de pesquisa sobre o zika vírus.

“Os pesquisadores estão trabalhando em vários aspectos. Primeiro, tentar entender melhor porque a infecção com o vírus provoca aparentemente essa lesão grave no sistema nervoso do feto. Em segundo lugar, desenvolver drogas antivirais que possam diminuir os efeitos do vírus, principalmente em uma gestante, para que o vírus não ultrapasse a barreira e chegue ao feto. A vacina será mais de longo prazo, bem como o desenvolvimento de um kit diagnóstico, que não existe desde o surgimento da doença.”

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