Sputnik: Como o senhor escolhe o local em que um trabalho será realizado? O senhor contata as autoridades municipais e nacionais com antecipação? Em particular, como foi feita a escolha da cidade de Moscou para retratar Maya Plissetskaya?
Eduardo Kobra: Sobre Maya Plissetskaya, recebi um convite de uma organização cultural da cidade de Moscou, esta organização ficou incumbida de fazer toda organização logística, isso inclui andaimes, hotéis, passagens, e acima de tudo o local onde o mural seria realizado, sendo assim, o espaço foi autorizado pelo governo, através de negociações com essa organização, em todos os casos internacionais procuro ter este tipo de autorização para evitar problemas e garantir a permanência do mural.
S.: O senhor já conhecia a arte de Plissetskaya e tinha pensado em retratá-la? Ou foi um convite por parte da Rússia com esta proposta concreta?
E.K.: Recebi o convite da Rússia, porem a criação e o desenvolvimento artístico não sofreu interferências, porque a ideia vem de um projeto que tenho chamado "muro das memórias" onde costumo retratar imagens antigas, e algumas personalidades, e Maya, é um ícone do Ballet mundial, ela já fazia parte de uma coleção de pinturas em tela que realizei sobre murais, então quando o convite surgiu, não tive dúvidas em retrata-la, porém, quando cheguei a Moscou fiz questão de visitar bibliotecas locais, e encontrar a melhor imagem para o espaço.
S.: O senhor já tinha estado em Moscou antes de fazer este trabalho? Planeja voltar a esta cidade ou a uma outra cidade russa?
E.K.: Amei Moscou, tive a oportunidade de conhecer São Petersburgo, outra cidade maravilhosa, recebi outros convites para pintar na Rússia, estou ansioso para que o convite se concretize e eu consiga voltar a Rússia, e mais uma vez deixar o meu trabalho estampado em um mural.
S.: O seu trabalho caracteriza-se por retratos de imagens e pessoas mundialmente conhecidas. É uma estratégia? O senhor já pensou em fazer um trabalho que não recorra a um imaginário reconhecível, "próprio", por assim dizer?
E.K.: Tenho alguns diferentes projetos, posso citar o Greenpincel, onde falo da proteção aos animais, o Projeto Muro das Memórias, onde realizo murais falando da historia do local por onde passo, também realizo pinturas em 3d no piso, além de projetos especiais como o "são Paulo uma realidade aumentada" onde falei de vários problemas sociais que a cidade vive, como desemprego, moradia, corrupção, mas de uma forma geral meu trabalho tem como base a realidade da vida nas grande cidades.
S.: Onde está a diferença entre arte e vandalismo, falando em grafite e arte urbana? O senhor já viu uma obra sua apagada por funcionários de limpeza pública? O senhor acompanha as pichações e outros exemplos de "arte radical"?
E.K.: Sou autodidata, minha trajetória se iniciou nas ruas de SP, então tive contato com Pichações, grafite, tudo isso feito sempre de forma ilegal, já tive algumas obras danificadas, porem atualmente existe uma consciência maior por parte das autoridades, Mas quem está nas ruas, de certa forma esta acostumado com a efemeridade da street art.
S.: Como o senhor chegou ao seu estilo único?
E.K.: Foi um longo processo, conforme comentei, meu trabalho teve como base durante anos, imagens históricas, antigas, que geralmente eram feitas em preto e branco ou sépia, os coloridos surgiram da necessidade de dar mais vida a estas cenas, então passei a dar outras dimensões nas imagens como é o caso do mural Oscar Niemeyer da avenida Paulista, onde as cores e formas geométricas, recriam na face do Niemeyer, algumas das obras que ele realizou no Brasil.
S.: Qual foi a reação mais incomum que o senhor já registrou sobre a sua obra?
E.K.: O meu mural feito na Grécia, em Athenas, foi completamente destruído por religiosos ortodoxos, porque confundiram o painel com algo que não tinha absolutamente nada a ver com questões religiosas.
S.: Em que projeto o senhor está trabalhando agora? Pode compartilhar algum detalhe?
E.K.: Estou me preparando para um grande mural em Dubai nos Emirados Árabes, e na sequencia devo realizar alguns painéis na Europa e EUA, entre eles um projeto aqui em SP, 10 murais falando sobre a violência que vivemos atualmente.