Imediatamente após a veiculação da entrevista, pelo menos dois ministros de Evo Morales vieram a público condenar as declarações de Carlos Valverde. Juan Ramón Quintana, ministro da Presidência, e Marianela Paco, das Comunicações, criticaram o jornalista e acusaram alguns órgãos da mídia, nacionais e internacionais (entre eles, a CNN), de integrar uma grande conspiração contra o Governo Morales.
Mais incisivo, Juan Ramón Quintana foi além em suas críticas, acusando os órgãos que repercutem as críticas do jornalista de omitir o fato de que “Carlos Valverde é narcotraficante e agente de informações dos Estados Unidos”. O ministro disse ainda que Valverde tem encontros frequentes com graduados funcionários da Embaixada dos Estados Unidos na Bolívia.
Já Marianela Paco afirmou: “Não é raro a CNN tomar parte de conspirações e de campanhas internacionais contra governos legítimos.”
Por sua vez, o presidente do Equador, Rafael Correa, saiu em defesa do seu colega boliviano e afirmou que a imprensa de oposição exerceu um papel relevante para a derrota de Evo Morales no referendo de 21 de fevereiro. Na ocasião, o eleitorado boliviano disse não à pretensão de Evo Morales de encaminhar ao Parlamento uma Proposta de Emenda Constitucional que lhe permitiria, se acolhida, disputar mais um mandato presidencial, de forma consecutiva, em 2018.
No Brasil, o pesquisador do Núcleo das Américas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), João Cláudio Pitillo, é categórico: “Valverde não pode ser levado a sério”.
“Há muito tempo as grandes corporações de mídia na América Latina vêm tendo um papel semelhante ao de um partido de oposição”, diz o especialista da UERJ. “Elas trabalham sistematicamente contra os governos progressistas, e o Governo Evo Morales está na lista do ‘a ser derrubado’”.
Segundo João Cláudio Pitillo, “Valverde é uma figura inusitada na sociedade boliviana. Há um tempo ele lançou um livro levantando suspeições de que o Presidente Evo tem envolvimento com o tráfico de drogas. Esse livro é uma peça de ficção, porque a ONU e todos os institutos de fomento parabenizam Evo Morales pelo seu papel no combate às drogas. No mínimo, essa pessoa [Carlos Valverde] não pode ser levada a sério”.
Sobre a manifestação do presidente do Equador, Rafael Correa, em relação à influência da mídia internacional sobre o referendo de 21 de fevereiro, o professor da UERJ afirma não haver dúvida “de que a imprensa golpista teve um papel preponderante, haja vista que há pouquíssimo tempo o Presidente Evo Morales obteve uma vitória esmagadora na sua reeleição, e não faz sentido essa derrota tão próxima”.
“O marco inicial dessa imprensa golpista na área internacional foram as eleições na Nicarágua, quando Violeta Chamorro derrotou a Frente Sandinista. Ali surgiu uma imprensa tecnicista, ligada aos interesses do capital e completamente entranhada na sociedade latino-americana, para criar o caos e manter a subordinação, através da alienação, ao grande capital financeiro. Isso se repete sistematicamente na Venezuela de hoje; no Paraguai, no qual foi vítima de golpe o Presidente Lugo; no Brasil de hoje, contra a Presidenta Dilma. É uma campanha sistemática e que foi preponderante para a vitória do Presidente Mauricio Macri na Argentina".
João Cláudio Pitillo comenta ainda a declaração da ministra das Comunicações da Bolívia, Marianela Paco, que deplorou que a CNN, autora da entrevista com o jornalista Carlos Valverde, tome parte “na conspiração de uma campanha internacional para atentar contra Governos legítimos”.
“Não podemos esquecer que a CNN teve um papel preponderante na primeira Guerra do Golfo e na campanha midiática para a invasão do Iraque e para a deposição do Presidente Saddam Hussein”, lembra Pitillo. “A CNN tem um know-how para subverter a verdade e criar grandes fantasias para a sociedade norte-americana. A CNN trabalha pari passu aos interesses de Washington”.