Assim, 200 mosquitos foram infectados com o zika vírus, e as suas reações desde então vêm sendo observadas. Os testes continuam sendo feitos em laboratório, e de acordo com a pesquisadora as avaliações prosseguirão por mais alguns meses, provavelmente até o final do ano, para que os cientistas comprovem as suas teses de que existem mesmo outros vetores, além do Aedes Aegypti e do pernilongo, capazes de transmitir o zika vírus.
“É importante inicialmente destacar que essa detecção do vírus zika na glândula salivar do mosquito Culex, que é a muriçoca comum, foi feita em laboratório”, destaca a Professora Constância Ayres. “Nós fizemos uma infecção artificial com essa espécie de mosquito e acompanhamos a replicação do vírus até alcançar a glândula salivar. Não foi detectada ainda na natureza a presença do vírus na glândula salivar desse mosquito.”
A bióloga da Fiocruz de Pernambuco conta que o que a levou a pesquisar essa possibilidade é que “no ambiente silvestre o vírus já foi isolado em diversas espécies de mosquitos de diferentes gêneros, principalmente do gênero Aedes, mas também mosquitos dos gêneros Anopheles, Culex e Mansonia, várias espécies de mosquitos silvestres que poderiam participar na transmissão”.
“Minha pergunta foi: no ambiente urbano, por que somente uma espécie estaria envolvida? Como aqui no ambiente urbano nós temos outra espécie que é muito mais abundante do que o Aedes Aegypti, eu decidi investigar a possibilidade de essa espécie de mosquito estar envolvida na transmissão de zika. Daí o nosso interesse em investigar isso.”
Sobre o procedimento adotado pela pesquisadora, ela revela que sua equipe cumpriu algumas das etapas que incriminariam uma espécie como vetor:
“Existem alguns critérios em nossa metodologia que requerem que nós provemos em laboratório que aquela espécie de mosquito se infecta, permite a replicação do vírus e dissemina. Outra etapa que ainda está sendo realizada é a detecção do vírus nessa espécie de mosquito na natureza. Esta etapa nós ainda não cumprimos. O que nós fizemos foi mostrar, em laboratório, que o mosquito se infecta e que ele replica na glândula salivar, o que poderia torná-lo um potencial vetor.”
A respeito da questão, ainda em aberto, de se ter ou não certeza de que o zika vírus é responsável pela microcefalia, a bióloga Constância Ayres afirma que “todos os trabalhos, todos os resultados que temos até agora levam a crer que exista essa associação. Porém, de acordo com a metodologia científica, para se ter uma prova final, há que se acompanhar um grupo de gestantes, um grupo de bebês com a deficiência e detectar a presença do vírus nesses pacientes, comparando com os bebês sadios. Com essa associação, com essa análise estatística demonstrada, isso vai ser confirmado. Mas tudo leva a crer que, de fato, todos os tecidos analisados até agora e que estavam com indícios de microcefalia e da associação do vírus – isso realmente se detectou. Acho que estamos nos encaminhando para ter essa resposta muito em breve”.