Também nesta sexta-feira, a alta representante da UE para Assuntos Exteriores e Política de Segurança, Federica Mogherini, esteve reunida com o vice-chanceler cubano Abelardo Moreno para assinar um acordo que normaliza as relações abaladas durante anos devido a divergências sobre direitos humanos. Cuba era até agora o único país da América Latina que não tinha um acordo político com os europeus. As negociações para a assinatura de hoje já duravam quase dois anos, após uma série de avanços recentes. Antes de entrar em vigor, no entanto, o acordo ainda deve ser aprovado pelo Parlamento Europeu.
O professor de História Contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Francisco Carlos Teixeira da Silva lembra que, embora EUA e UE tenham interesses parecidos, a reunião na Flórida obedece a outra estratégia.
“Em período eleitoral, em que os democratas estão jogando pesado na perspectiva de continuidade do poder, a ideia é acalmar o eleitorado de origem cubana, que fez a migração de Cuba depois de 1959 para a Flórida e se constituiu num grupo muito conservador e muito contrário não só a Fidel Castro mas ao regime no seu todo em Cuba”, diz o especialista.
O professor da UFRJ explica que muitos desses exilados têm ainda escrituras, documentos de fábricas e equipamentos que foram nacionalizados em Cuba e por isso querem exigir indenizações sobre essas perdas. Já a nova geração, a terceira na Flórida, não está mais pensando nessas questões. Eles estão mais interessados em resolver a questão das visitas, reunir famílias e enviar dinheiro da Flórida para os familiares na Ilha.
A demora na assinatura do acordo com a União Europeia é explicada por Teixeira da Silva pelas dificuldades surgidas no próprio cenário europeu.
“A União Europeia vive neste momento uma grave paralisia: a possibilidade de saída da Grã-Bretanha, a situação muito difícil da Itália e particularmente da Espanha, que era uma ponte natural com Cuba, fazem com que o diálogo esteja diminuindo. Também as questões dos refugiados, do desemprego, da xenofobia estão paralisando a UE.”
Apesar das dificuldades, existe tanto da parte dos Estados Unidos quanto da UE um grande interesse porque Cuba, reincorporada à comunidade internacional, pode ter um potencial de renovação de equipamentos para suas indústrias fundamentais para duas importantes commodities no comércio internacional: o açúcar e o álcool combustível alternativo ao fóssil.
O professor diz que, neste sentido, o Brasil tem que ficar muito atento porque, uma vez levantadas as restrições que pesavam sobre Cuba, o mercado mundial de açúcar e de álcool – no qual o país é muito interessado – vai ser muito afetado. Em termos de diplomacia e interesse geopolítico, contudo, o professor afirma que o Brasil agiu corretamente.
“O Brasil saiu à frente. Fez o financiamento do Porto de Ariel e assumiu uma participação importante no papel de reaproximação dos Estados Unidos com Cuba, onde assumiu uma posição muito forte pela construção do porto com empresas brasileiras, fazendo com que tenhamos hoje uma posição mais avançada em relação aos EUA e à UE.”