Além disso, a tecnologia informática também fornece uma ligação das favelas com o mundo exterior. Segundo observa o professor, que atualmente trabalha como pesquisador do Núcleo das Américas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), isso significa que os moradores das favelas podem mostrar seus problemas para o mundo e receber experiências de diversos lugares para melhorar sua própria situação.
“A favela é um local onde se carece de tudo: ali está a classe que sobra. Mas tem duas coisas que não faltam na favela: dinamismo e expertise daquela população em sobreviver aos problemas que a sociedade nos impõe. E isso é uma experiência que eles trocam em larga escala com outras sociedades, com outros povos”.
Entretanto, a partir do processo de “pacificação” no Rio de Janeiro – “que não pacificou nada”, segundo Pitillo – surge também a ideia de se vender a favela de forma “caricata e fantasiosa” para o mundo exterior, sem se preocupar em resolver de fato os problemas sofridos pelos moradores.
“Você vem, observa a miséria, fica boquiaberto com como aquele cidadão é ‘honesto e trabalhador’ apesar daquilo tudo, e depois vai embora”, disse Pitillo, referindo-se à indústria que se formou em cima dos passeios turísticos nas favelas cariocas.
Just your typical Top-Of-The-Favela-Selfie. #TimInBrasil pic.twitter.com/KFnnxRJeF3
— Tim (@pH0u57) 5 de abril de 2014
A formação de telecentros e a promoção da inserção digital em um primeiro estágio é, portanto, essencial, do ponto de vista da melhoria da qualidade de vida nas favelas, mas quando se percebe que é preciso aumentar essa capacidade e que a internet é cara e de baixa qualidade, e que o morador continua sem saúde nem educação, é preciso avançar nas políticas públicas, diz o professor.
VÁRIOS FOGOS, FESTA NA FAVELA QUE A INTERNET VOLTOU, DEUS É MAISSSS
— sequelado (@limaarn) 29 de fevereiro de 2016
“Por se colocar frontalmente em oposição a esses governos reacionários – principalmente com o problema da forma com que os governos tratam a violência e a criminalização da pobreza”, afirma Pitillo, “a FAFERJ foi sendo relegada a segundo plano, e hoje os processos de inclusão digital na favela são tocados por empresas privadas, sem nenhum contraponto político e social – é apenas mais uma interface comercial, mais uma versão do capitalismo”.
Em 2011, a Organização das Nações Unidas (ONU) decretou que o acesso à internet deve ser enxergado como um direito humano, na medida em que “permite que indivíduos busquem, encontrem e compartilhem informações de todos os tipos, de uma forma instantânea e barata”, além de “impulsionar o desenvolvimento econômico, social e político das nações, contribuindo para o progresso da humanidade como um todo”.