Em uma agenda que incluiu passeio no centro histórico de Havana – tombada pela Unesco em 1982 como Patrimônio Mundial da Humanidade –, os dois mandatários trocaram apertos de mão, posaram para fotos e discutiram assuntos protocolares. Obama aproveitou a ocasião para defender o direito de o povo cubano decidir por si só o seu futuro – numa crítica velada à existência do partido único da ilha –, enquanto Raúl Castro pediu empenho ainda maior do presidente americano na retirada das sanções econômicas impostas à ilha desde os anos 60 e condenadas por 21 anos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
O professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF) Daniel Aarão Reis é um dos especialistas que concordam que a visita é histórica, mas muito ainda precisa ser feito para a completa normalização das relações entre os dois países.
“A visita é histórica, porque ela não é comparável com a que fez o Presidente Coolidge (Calvin Coolidge, do Partido Republicano) em 1928, na medida em que Cuba, àquela época, era uma semicolônia dos Estados Unidos”, comenta Aarão Reis. “Ainda em 1928 estava vigente a Emenda Platt, que foi feita à Constituição cubana, a primeira, em 1903. Por essa Emenda, os Estados Unidos estavam autorizados a invadir a ilha a qualquer momento desde que isso fosse julgado conveniente aos seus interesses nacionais. Essa emenda só seria revogada em 1934. Hoje Cuba é um país independente, por mais críticas que se possa ter.”
Segundo o professor da UFF, a visita tem uma expressão simbólica imensa. “A política não é feita só de medidas concretas, é feita também de iniciativas simbólicas. É o que vai acontecer com essa viagem de Obama a Cuba. Agora, revogar o embargo já são outros quinhentos.”
“Há muitas controvérsias sobre a margem de manobra exata que Obama tem na condução das relações dos Estados Unidos com Cuba. Há críticos que dizem que ele poderia fazer muito mais do que já fez, outros dizem que não, que ele está tolhido pela maioria republicana no Congresso.”
O especialista lembra que a Revolução Cubana prejudicou demais os interesses de empresas americanas, e o Governo dos EUA tomou as dores e começou a determinar uma série de represálias. Segundo Aarão Reis, depois dos anos 90 esse embargo foi se sofisticando.
“Havia naquele momento uma crise séria em Cuba – com a dissolução da União Soviética –, e os Estados Unidos imaginaram que, apertando o embargo, o regime se desagregaria. Mas não foi o que aconteceu. Para alterar o embargo, Obama depende de uma nova lei que o revogue, mas ele tem tomado medidas para afrouxar os controles, a repressão.”
Quanto à possibilidade de um candidato republicano vencer as eleições americanas e reverter o processo de aproximação, Aarão Reis acredita que a hipótese é pouco provável.
“Acho difícil que haja uma regressão. Pode haver um banho-maria. Tudo vai depender das eleições e da força do conservadorismo nos Estados Unidos. A política de abertura dos EUA com Cuba interessa muito às grandes empresas americanas."