Em 22 de fevereiro, foi publicada uma declaração conjunta dos EUA e da Rússia sobre a Síria, referente ao cessar-fogo entre as tropas do governo sírio e os grupos armados da oposição a partir de 27 de fevereiro, sem o mesmo, no entanto, ser aplicado ao Daesh, à Frente al-Nusra e a outras organizações que a ONU considera terroristas.
Ao mesmo tempo, a questão do destino do presidente sírio, Bashar Assad, nas negociações entre a Rússia e os EUA lembra um balanço. No início de abril, o representante oficial do Departamento de Estado norte-americano, Mark Toner, disse que os EUA estavam de acordo com a Rússia que o destino de Assad deveria ser decidido pelo povo sírio. Em seguida, a representante oficial da chancelaria russa, Maria Zakharova, afirmou que havia uma aproximação entre as posições da Rússia e dos EUA sobre Assad. A diplomata disse que a política norte-americana na região levou vidas de muitos civis, as ações da coalizão internacional liderada pelos EUA não atingiram resultados desejáveis e, por isso, o destino de Assad foi retirado do topo da lista de prioridades, mas permaneceu na agenda norte-americana.
Parece que agora há uma nova reviravolta na posição norte-americana, ou, o que é mais correto, na sua retórica sobre o futuro do líder sírio. O presidente da Comissão de assuntos internacionais da Duma de Estado (câmara baixa do parlamento russo), Aleksei Pushkov, disse que “pelo visto, a luta contra o Daesh não é a prioridade para os EUA, mas que a sua prioridade é atingir a regularização na Síria que os EUA consideram benéfica para si próprios”, acrescentando que é por isso que a Rússia e os EUA têm visões diferentes sobre o futuro do governo atual na Síria.
O Ministério das Relações Exteriores russo disse que Washington não discutiu nenhum plano com Moscou e não sabe sobre a sua existência. Mas, se tal plano existe, é uma desilusão e uma preocupação.
O conselheiro principal do Instituto Russo de Estudos Estratégicos, Vladimir Kozin, disse em entrevista para a rádio Sputnik que o plano B realmente existe e que o seu objetivo é frustrar o processo de paz na Síria.
“O plano B dos EUA é pérfido […] e o seu objetivo final é frustrar o processo de paz que agora se desenvolve de modo muito lento e está relacionado com muitas dificuldades e provocar na República Árabe da Síria mais uma onda de violência”, disse Kozin.
“Como se trata da aviação, pode tocar diretamente nos interesses de defesa da Rússia na Síria. Além disso, é pouco provável que a parte russa receba quaisquer explicações sobre o conteúdo desse plano. Tendo em conta o vazamento na mídia norte-americana, temos todas as razões para prevenir potenciais fornecedores de armamentos e eliminar todas as rotas de abastecimento sem piedade", afirmou o especialista.
Kozin ecoou a opinião de Pushkov dizendo que a existência do plano significa que os EUA lutam na Síria não contra os terroristas, mas contra Assad.
“O foco do plano é destinado contra Assad, porque nem os norte-americanos nem os seus aliados mais próximos na OTAN e na região alteraram a sua posição negativa em relação ao presidente sírio. Penso que, no futuro, farão tudo que depender deles para derrubá-lo e colocar no poder um líder pró-ocidental que fará tudo o que disserem Washington, Riad, Londres etc".
“É preciso realizar um jogo que é orientado a um objetivo com os norte-americanos: se sentirem fraqueza nos nossos esforços de regularizar o conflito sírio, no futuro, agirão de forma insolente, e isso não levará a algo bom. Por todos os lados onde agiram os norte-americanos, há sangue, problemas e conflitos não resolvidos”, concluiu Kozin.
A única conclusão que pode ser feita é que os EUA não querem, de maneira alguma, ver a Síria pós-guerra como uma aliada da Rússia. As posições da Rússia e dos países ocidentais nunca coincidirão. Se o plano B realmente existe, se calhar, podemos esperar por mais provocações excitadas pelos EUA e os seus aliados para arruinar a trégua na Síria. As consequências disso podem ter caráter terrível, e o Oriente Médio não deixará de arder em consequência de mais conflitos e atividades terroristas.