Hipocrisia sem precedentes: EUA acordaram trégua na Síria para arruiná-la?

© AFP 2023 / JONATHAN ERNST / POOLMinistro das Relações Exteriores russo Sergei Lavrov e o Secretário de Estado norte-americano John Kerry na reunião bilateral nas margens da reunião dos ministros da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, Belgrado, Sérvia, 3 de dezembro de 2015
Ministro das Relações Exteriores russo Sergei Lavrov e o Secretário de Estado norte-americano John Kerry na reunião bilateral nas margens da reunião dos ministros da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, Belgrado, Sérvia, 3 de dezembro de 2015 - Sputnik Brasil
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Na terça-feira (12), tornou-se público que os EUA preparam um plano alternativo para a Síria. Se é verdade, será que os EUA agem de modo hipócrita de novo?

Em 22 de fevereiro, foi publicada uma declaração conjunta dos EUA e da Rússia sobre a Síria, referente ao cessar-fogo entre as tropas do governo sírio e os grupos armados da oposição a partir de 27 de fevereiro, sem o mesmo, no entanto, ser aplicado ao Daesh, à Frente al-Nusra e a outras organizações que a ONU considera terroristas.

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Desde o começo da trégua, as duas partes repetidamente disseram que precisam aumentar a cooperação para a sua consolidação e acordaram tomar medidas adicionais para obstaculizar as tentativas de abastecer o Daesh, a Frente al-Nusra e os seus aliados com armamentos do estrangeiro.

Ao mesmo tempo, a questão do destino do presidente sírio, Bashar Assad, nas negociações entre a Rússia e os EUA lembra um balanço. No início de abril, o representante oficial do Departamento de Estado norte-americano, Mark Toner, disse que os EUA estavam de acordo com a Rússia que o destino de Assad deveria ser decidido pelo povo sírio. Em seguida, a representante oficial da chancelaria russa, Maria Zakharova, afirmou que havia uma aproximação entre as posições da Rússia e dos EUA sobre Assad. A diplomata disse que a política norte-americana na região levou vidas de muitos civis, as ações da coalizão internacional liderada pelos EUA não atingiram resultados desejáveis e, por isso, o destino de Assad foi retirado do topo da lista de prioridades, mas permaneceu na agenda norte-americana.

Parece que agora há uma nova reviravolta na posição norte-americana, ou, o que é mais correto, na sua retórica sobre o futuro do líder sírio. O presidente da Comissão de assuntos internacionais da Duma de Estado (câmara baixa do parlamento russo), Aleksei Pushkov, disse que “pelo visto, a luta contra o Daesh não é a prioridade para os EUA, mas que a sua prioridade é atingir a regularização na Síria que os EUA consideram benéfica para si próprios”, acrescentando que é por isso que a Rússia e os EUA têm visões diferentes sobre o futuro do governo atual na Síria.

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O jornal norte-americano The Wall Street Journal divulgou na terça-feira (12) as informações sobre o plano B para a parte norte-americana caso o cessar-fogo na Síria seja arruinado. O Wall Street Journal diz que a CIA e os seus parceiros regionais prepararam um plano de abastecer a oposição moderada síria com armamentos mais potentes caso o cessar-fogo no país seja frustrado. Segundo o jornal, o foco do plano é abastecer a oposição moderada síria com sistemas militares capazes de atacar aviões e posições de artilharia do regime sírio. Na quarta-feira (13), o porta-voz da CIA, Ryan Trapani, disse à Sputnik que a agência americana se recusa a comentar essas informações.

O Ministério das Relações Exteriores russo disse que Washington não discutiu nenhum plano com Moscou e não sabe sobre a sua existência. Mas, se tal plano existe, é uma desilusão e uma preocupação.

O conselheiro principal do Instituto Russo de Estudos Estratégicos, Vladimir Kozin, disse em entrevista para a rádio Sputnik que o plano B realmente existe e que o seu objetivo é frustrar o processo de paz na Síria.

“O plano B dos EUA é pérfido […] e o seu objetivo final é frustrar o processo de paz que agora se desenvolve de modo muito lento e está relacionado com muitas dificuldades e provocar na República Árabe da Síria mais uma onda de violência”, disse Kozin.

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Na sua opinião, esse plano pode ter impacto sobre os interesses russos na Síria.

“Como se trata da aviação, pode tocar diretamente nos interesses de defesa da Rússia na Síria. Além disso, é pouco provável que a parte russa receba quaisquer explicações sobre o conteúdo desse plano. Tendo em conta o vazamento na mídia norte-americana, temos todas as razões para prevenir potenciais fornecedores de armamentos e eliminar todas as rotas de abastecimento sem piedade", afirmou o especialista.

Kozin ecoou a opinião de Pushkov dizendo que a existência do plano significa que os EUA lutam na Síria não contra os terroristas, mas contra Assad.

“O foco do plano é destinado contra Assad, porque nem os norte-americanos nem os seus aliados mais próximos na OTAN e na região alteraram a sua posição negativa em relação ao presidente sírio. Penso que, no futuro, farão tudo que depender deles para derrubá-lo e colocar no poder um líder pró-ocidental que fará tudo o que disserem Washington, Riad, Londres etc".

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Kozin afirmou que Moscou deve manter firmeza no que diz respeito ao processo de paz na Síria.

“É preciso realizar um jogo que é orientado a um objetivo com os norte-americanos: se sentirem fraqueza nos nossos esforços de regularizar o conflito sírio, no futuro, agirão de forma insolente, e isso não levará a algo bom. Por todos os lados onde agiram os norte-americanos, há sangue, problemas e conflitos não resolvidos”, concluiu Kozin.

A única conclusão que pode ser feita é que os EUA não querem, de maneira alguma, ver a Síria pós-guerra como uma aliada da Rússia. As posições da Rússia e dos países ocidentais nunca coincidirão. Se o plano B realmente existe, se calhar, podemos esperar por mais provocações excitadas pelos EUA e os seus aliados para arruinar a trégua na Síria. As consequências disso podem ter caráter terrível, e o Oriente Médio não deixará de arder em consequência de mais conflitos e atividades terroristas.

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