A matéria original, cujo título era “Apenas 36 deputados se elegeram com seus próprios votos”, explicava que os outros 477 eleitos, que compõe a Câmara desde 2015, e até 2018, foram “puxados” por votos dados à legenda ou a outros candidatos de seus partidos ou coligações. Para se ter uma ideia do que isso significa, apenas o ex-humorista Tiririca elegeu cinco parlamentares que não alcançaram o mínimo necessário.
Às vésperas da votação do prosseguimento do processo de impeachment da Presidenta Dilma Rousseff na Câmara, e, principalmente, após o seu resultado, a publicação foi amplamente replicada de forma crítica nas mídias e redes sociais, fazendo uma alusão direta à crise de representatividade que claramente assola o país.
Muita gente ficou perplexa e as críticas parecem não ter agradado aos parlamentares. Assim, na terça-feira (19), a matéria sobre os 477 deputados “puxados” foi editada no site da Câmara, ou melhor, substituída por um outro artigo de conteúdo totalmente distinto!
Curiosamente, o título foi alterado para “Eleição para a Câmara dos Deputados segue o modelo proporcional previsto na Constituição”. Já o novo texto sequer faz menção ao fato de apenas 36 deputados terem se elegido com seus próprios votos.
Ao invés disso, a matéria exalta a legalidade da eleição dos parlamentares e explica o passo a passo de como é realizada a distribuição dos votos dentro dos partidos e das coligações partidárias de acordo com o sistema proporcional previsto na Constituição brasileira. Muito didático! Mas será que ético?
Para não fazer feio, o site acrescentou uma nota de rodapé justificando a alteração com o seguinte argumento:
“(*) Esta matéria foi atualizada em 19/4/2016 para garantir uma explicação correta do funcionamento do sistema de eleição proporcional no Brasil. Ao contrário do que dizia o texto anterior, não foi apenas um determinado número de deputados que se elegeu com os seus próprios votos. Todos os deputados são eleitos com os seus próprios votos dentro das regras do sistema proporcional. Portanto, todos os deputados têm a mesma legitimidade nos seus mandatos.”
Mas para que alterar ou substituir uma matéria por uma outra totalmente diferente quando se pode simplesmente publicar uma nova? A explicação não convence e a impressão que fica é que a Câmara está mesmo é preocupada em omitir fatos constrangedores.