“Esperávamos que o Ligea Mare fosse completamente formado por etano (…), mas se verificou que as ‘águas’ dele são compostas por metano puro. Isto é possível caso o Ligea tenha sido constantemente enchido por chuvas de metano, ou exista um processo que retire o etano das suas águas”, disse Alice Le-Gall da Universidade de Versalhes (França).
Até hoje o Titã é o único corpo celeste conhecido no sistema solar, para além da Terra, que tem reservatórios líquidos na sua superfície. Durante 12 anos de trabalho na órbita de Saturno, a nave espacial Cassini e a sonda Huygens descobriram dezenas de lagos, rios e mares em Titã, também esclareceram vários processos atmosféricos que regem a formação e destruição dos lagos e rios.
Le-Gall e os seus colegas tinham dúvidas sobre esta questão, analisando os dados colhidos pela Cassini durante 8 anos de trabalho sobre o Ligea Mare – o maior lago de Titã, que tem uma profundidade de 160-170 metros e contém 40 vezes mais hidrocarbonatos do que os subsolos da Terra.
Os novos dados mostram, como já dissemos, que quase todo o Ligea Mare é constituído por metano. Os sensores da Cassini não conseguiram encontrar sinais de etano e de hidrocarbonatos mais pesados. Isto foi uma surpresa para os cientistas e agora eles têm que explicar para onde desapareceu este etano.
“Isto é grande êxito para nós. Agora podemos dizer que realizamos uma grande pesquisa oceanográfica em outro planeta, numa das luas do gigante de gás mais afastado da Terra. Também podemos dizer que Titã nunca deixa de nos surpreender”, disse Steven Wall, um dos autores do artigo do laboratório de translação reativa de NASA, na cidade de Pasadena (EUA).
As margens do Ligea, devido a aquecerem muito lentamente durante o ‘verão’ e a ‘primavera’ em Titã, constituem pântanos ou trechos porosos cheios de hidrocarbonetos líquidos.