Às intensas negociações feitas pelos partidos que apoiam a oposição na tradicional disputa de cargos, uma das maiores dificuldades, segundo interlocutores próximos ao vice-presidente, acontece justamente no núcleo econômico do novo governo. Embora dois nomes já estão dados como certo — o de Henrique Meireles à frente da Fazenda e de Romero Jucá (PMDB-PE) no Planejamento — nichos importantes continuam sem ter um nome favorito, quer na esfera do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, na Caixa Econômica Federal, na Petrobras e até no Banco Central, onde vêm sendo cogitados nomes de Ilan Goldfajn, Eduardo Loyo, Afonso Bevilaqua, Mario Mesquita e Carlos Hamilton Araújo, todos ex-diretores da autoridade monetária nos últimos doze anos.
Muitos analistas têm afirmado que, por se tratar de quadros técnicos, a área econômica deve incorporar titulares que ocuparam postos, ainda que secundários, nos governos do ex-presidente Lula e da presidente Dilma. A novidade agora seria a mudança de enfoque, abrindo espaço para quadros com formação mais liberal. Um dos especialistas que concordam com essa tendência é Celso Toledo, sócio da E2 Economia. Estratégia para quem Temer sinaliza uma mudança de orientação da política econômica e para dar substância indica nomes que são associados a essa orientação.
"Esses nomes não são novos, são figuras conhecidas do mercado e isso justamente para provocar um choque favorável de expectativas. Os nomes indicados para o Banco Central são de ex-diretores em um período recente. São todos economistas que acreditam numa linha liberal, em um combate ferrenho às pressões inflacionárias e um ministro da Fazenda que entraria com a missão de promover uma mudança na política fiscal. Essa tem sido a sinalização do Temer."
Se o afastamento da presidente Dilma se confirmar após os 180 dias que ficará longe da presidência enquanto o Senado analisa os fundamentos das ações impetradas contra ela por crime de responsabilidade fiscal, não havendo convocação de eleições e Temer permanecendo no cargo até dezembro de 2018, Toledo acredita que a gestão de Temer não terá tempo hábil para promover grandes alterações na economia no que diz respeito a mudanças importantes, como, por exemplo, na legislação trabalhista e em mudanças na Previdência. O foco, segundo o especialista, recairá sobre a necessidade de equilíbrio das contas públicas e do ajuste fiscal.
"É impossível promover um ajuste fiscal sem uma combinação de corte de gastos e aumento de impostos. O governo até agora vinha fazendo bondades. Quando você faz bondades, o Congresso vai aceitando. Agora é hora de fazer 'maldades', e é preciso observar se ele (Temer) tem a capacidade de tocar para frente isso. Esses discursos políticos na verdade não fecham. Outra coisa é a habilidade que ele tem de dar uma coisa aqui, tirar outra de lá. Se ele for bem sucedido, veremos uma combinação de aumento de impostos, embora a gente não saiba quais, provavelmente um corte modesto de gastos no curto prazo e um encaminhamento bem feito de reformas que tenham impacto a longo prazo."