Debaixo de muita, mas muita chuva, aconteceu no último domingo o tradicional cortejo de carros alegóricos dos estudantes finalistas da Universidade de Coimbra, em Portugal. O desfile, parte de uma semana de atividades dos universitários que estão quase deixando as bancas escolares para se aventurar no mercado de trabalho, se estendeu durante toda a tarde nas ruas da cidade portuguesa regado a muita cerveja, brincadeiras e protestos.
Quase todos os carros alegóricos traziam alguma mensagem de protesto e muitas delas eram políticas. José Sócrates, Passos Coelho e António Costa, os três mais recentes premiers de Portugal, foram as figuras mais lembradas e criticadas. Em um dos carros era possível ler a frase em inglês “Ready to export” (pronto para exportar), uma referência ao futuro que muitos daqueles jovens terão fora de Portugal. Mais à frente, em outro colorido carro, estava escrito: “Comprimido para enjoo? A viagem à procura de emprego é longa e vais andar às voltas com estágios não remunerados”. Frases bem humoradas de protesto como essas apareciam em quase todos os carros, numa referência às dificuldades que muitos desses novatos no mercado de trabalho sabem que vão enfrentar.
Marcado para o início da tarde, o cortejo começou junto com a tempestade. A chuva forte não desanimou os estudantes e nem o público, embora tenha dificultado um pouco a festa nas primeiras horas. O desfile durou a tarde toda, já que eram 101 carros alegóricos para descer a ladeira desde a Universidade de Coimbra até o centro. No percurso, os estudantes gritavam, cantavam, davam e tomavam banho de cerveja e recebiam as bençãos de amigos, familiares e colegas. Identificados por um terno completo com direito a bengala e chapéu, os finalistas paravam a todo o momento para receber três bengaladas na cabeça, uma tradição que se repete ano após ano.
No meio do cortejo, o sol voltou a aparecer para o delírio dos estudantes. O tom da festa lembra muito festivais de música ou feiras de cerveja, tamanha a quantidade de ambulâncias da Cruz Vermelha deslocadas para Coimbra para atender quem exagerou na bebida. A todo o momento o cortejo era forçado a abrir espaço para possibilitar o atendimento de alguém. “É quando temos o maior número de casos de coma alcoolico em Portugal”, comentou um morador.
Papa comunista
Na Queima das Fitas, o papa virou comunista. E não estamos falando do atual Papa Francisco, o que não seria surpresa, mas sim do antigo Papa João Paulo II. Na rótula do papa, onde uma estátua de Karol Wojtyla com os braços erguidos recebe quem vai à Universidade de Coimbra, os estudantes fizeram um dos atos mais simbólicos da festa: subiram no monumento carregando a cruz e a foice, símbolo do comunismo, e gritaram palavras de ordem.
Impossível não notar uma separação vigente entre os estudantes portugueses e os estrangeiros. Os tradicionais fatos que lembram – e, alguns dizem, é a inpiração – a roupa do bruxo Harry Potter, são usados por todos os estudantes. Poucos são estrangeiros, mesmo a Universidade de Coimbra sendo uma das que mais recebe estudantes de outros países.
A divisão ficou clara no final do cortejo, quando um grupo de aproximada 200 imigrantes de Cabo Verde, antiga colônia portuguesa, ocupou as tradicionais escadarias da entrada da universidade com tambores e dança. Eles não participaram do cortejo, mas fizeram a própria festa separada dos demais.
Festa
O cortejo foi apenas uma parte da festa da Queima das Fitas. Durante uma semana os jovens participam de atos de comemoração pelo encerramento do ciclo de estudos. São concertos, festas regadas a muita bebida e apresentações que acontecem anualmente em várias cidades de Portugal. No entanto, pela tradição e pela quantidade de estudantes, a Queima das Fitas de Coimbra é a maior e uma das mais procuradas por turistas.
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