Ao contrário: Michel Temer será alçado à Presidência da República em circunstâncias extraordinariamente excepcionais:
– segundo a imprensa, seu eventual Governo vai começar sem uma definição completa do Ministério;
– a necessidade de obter apoios já fez Michel Temer recuar e enveredar pelo inevitável caminho do pragmatismo político. Dessa forma, já se tem como certo que sua ideia de reduzir a gigantesca máquina estatal para 20 Ministérios poderá ser reavaliada;
– a incerteza quanto aos rumos do seu próprio possível processo de impeachment, que terá de enfrentar, inicialmente, na Câmara dos Deputados;
– os processos a que ele e Dilma Rousseff respondem no Tribunal Superior Eleitoral, que poderão culminar com a invalidação da vitória de ambos na eleição presidencial de 2014 devido às várias denúncias de que dinheiro de origem ilícita abasteceu a campanha da chapa PT/PMDB;
– a mais do que certa vigorosa reação de Lula e a capacidade de mobilização dos movimentos sociais que o ex-presidente possui em todo o país;
– as já anunciadas reações dos movimentos sociais por todo país, com bloqueios de rodovias, invasões de propriedades rurais e consecutivos protestos, o que vai demandar um forte exercício de autoridade por parte de Temer e dos governadores nas unidades da Federação em que os excessos se verificarem;
– o ânimo de Dilma Rousseff e dos seus seguidores de percorrer o país para, numa espécie de reinvenção da Caravana Lula, continuar denunciando o que chamam de golpe contra o seu mandato;
– o “efeito Cunha”: o afastamento de Eduardo Cunha da Presidência da Câmara dos Deputados e a suspensão do seu mandato parlamentar, decretados na quinta-feira, 5, pelo Supremo Tribunal Federal, estão longe de apagar ou neutralizar sua influência junto aos demais parlamentares. Segundo relatos da grande mídia, Temer não teria manifestado solidariedade a Cunha pelas decisões do Supremo. Cunha, que não admite a hipótese de renunciar para escapar da possível cassação do mandato, desempenha neste momento o papel do leão ferido;
– o incerto papel de Renan Calheiros na crise: embora Temer espere contar com Calheiros, o presidente do Senado, assim como Eduardo Cunha, responde a processos no Supremo Tribunal Federal. Renan Calheiros, que em momento algum da crise se afastou de Dilma e manteve abertos os canais de diálogo com Lula, é uma das maiores incógnitas com que Michel Temer terá de lidar;
– os possíveis novos desdobramentos da Operação Lava Jato, que, ao que tudo indica, ganhará novas fases. Dentro dela, já se anuncia que o empresário Marcelo Odebrecht, muito próximo de Lula, estaria disposto a revelar à Procuradoria-Geral da República, ao Ministério Público Federal e ao Supremo Tribunal Federal tudo que sabe e todos os “fenômenos” para os quais ele e suas empresas concorreram no âmbito do petrolão, o escândalo que envolve as denúncias de corrupção.
Como se não bastasse, Michel Temer ainda tem pela frente a redefinição da política externa do Brasil e a necessidade de recuperar confiança e investimentos externos para o país.
