A decisão foi tomada por cerca de mil estudantes reunidos em assembleia geral na terça-feira (10). Depois de debates sobre a crise política nacional e os ataques que a rede universitária e a educação pública têm sofrido, eles resolveram “ocupar e resistir” sob o lema “Cotas sim, cortes não! Contra o golpe e pela educação! Permanência e ampliação”.
Os estudantes de artes, pedagogia e ciências sociais da Unicamp já estavam em greve, mas reforçaram a mobilização na sequência da politização gerada pelo processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff, e após o anúncio feito pela reitoria de que haveria um corte de R$40 milhões nas verbas públicas destinadas à universidade, uma das melhores instituições de ensino da América Latina.
Os professores da instituição, por sua vez, reunidos em assembleia geral para debater a campanha salarial na última quinta-feira (5), decidiram entrar em greve a partir do dia 16 deste mês e adotar a expressão “Não ao golpe” em todas as manifestações e publicações do grupo docente.
Para professor da Unicamp, já vivemos Estado de Exceção semelhante ao nazismohttps://t.co/0hvHBPtLu8 pic.twitter.com/fqSPrEXtEr
— ¯\_(ツ)_/¯ (@praticaradical) 1 мая 2016 г.
Abaixo, a íntegra do manifesto dos alunos da Unicamp:
Nós, estudantes da UNICAMP reunidos nesse dia 10 de maio em assembleia geral com cerca de 1000 pessoas, decidimos construir a greve geral e ocupamos a reitoria da universidade sob o mote “COTAS SIM, CORTES NÃO! CONTRA O GOLPE E PELA EDUCAÇÃO, PERMANÊNCIA E AMPLIAÇÃO”.
O reitor, Tadeu, anunciou no dia 28 de abril um plano de “contingenciamento” que na prática significará o corte de cerca de R$ 40 milhões do orçamento da UNICAMP. Esse corte congelará os concursos, a contratação de professores e funcionários e afetará a carreira docente. A continuidade das obras, a manutenção de prédios e o atendimento à infraestrutura da universidade serão paralisados.
Muitos institutos, faculdades e também os colégios técnicos ligados à UNICAMP, o COTUCA e COTIL, serão afetados, com destaque para a área da saúde que terá cortes de gastos nos plantões e a reposição de médicos e enfermeiros será reduzida. Serviços como transporte fretado e cópias de impressão serão parcialmente cortados e já acontecem novas demissões de trabalhadores terceirizados, que já têm um trabalho ultra-explorado e salários injustos.
Se depender do plano da reitoria a moradia estudantil, que foi conquistada pela luta dos estudantes, mas há vinte anos não atende a demanda, terá seus problemas aumentados (hiperlotação, falta de camas, curtos na rede elétrica, infiltrações etc.) e a ampliação não acontecerá, ao contrário das falsas promessas do Tadeu. As bolsas que garantem a permanência dos estudantes serão reduzidas, inclusive aquelas que (absurdamente) exigem a contrapartida do trabalho.
O corte fortalece também o racismo estrutural da universidade, mantém a restrição do acesso da juventude negra à UNICAMP, que continua sendo a "diferentona", por não possuir uma política de cotas étnico-raciais. Não aceitaremos nenhum desses ataques, por isso ocupamos a reitoria e queremos que todas as nossas reivindicações sejam atendidas!
Entendemos que este corte é uma medida preparatória para um projeto maior de precarização, privatização e desmonte da universidade pública, imposto pelo governo do estado, conciliado com as reitorias e a mais alta burocracia das estaduais paulistas.
Mas não deixaremos que precarizem as nossas condições de estudo, pesquisa e nem as de trabalho! Por isso queremos nos unificar com os estudantes da USP, da UNESP e os secundaristas das escolas estaduais e ETECs de São Paulo, bem como a todos os trabalhadores, contra os ataques das reitorias e do governo Alckmin, que rouba merenda e manda sua polícia bater em estudantes que lutam, enquanto destrói a educação de todo o estado.
Se Tadeu e Alckmin vêm quentes com seus ataques, nós gritamos que a nossa luta só começou e já estamos fervendo!!"