“Em suma”, escreve o jornalista, “o PT ganhou quatro eleições nacionais seguidas – a última tendo ocorrido apenas 18 meses atrás. Seus oponentes têm vigorosamente tentado – e falhado – em derrotá-los nas urnas, em grande parte devido ao apoio ao PT entre as classes pobres e trabalhadoras do Brasil”.
“Então, se você é um plutocrata com a posse dos maiores e mais influentes veículos de mídia do país, o que você faz? Você dispensa a democracia toda – afinal, ela continua empoderando candidatos e políticas que você não gosta –, explorando seus meios de comunicação para incitar distúrbios e, em seguida, instalar um candidato que nunca poderia ser eleito por conta própria, mas que vai servir fielmente a sua agenda política e ideologia”, continua Greenwald.
Que capa maravilhosa essa do Le Monde Diplomatique Brasil! #NãoVaiTerGolpe #DilmaFica pic.twitter.com/jozYA1mVFd
— Daniela de Assis (@DanideAssis) 4 de maio de 2016
O autor chama a atenção ainda para o fato de que, ao contrário do impeachment na maior parte dos outros países com sistemas presidencialistas, o provável sucessor de Dilma, o vice-presidente Michel Temer (PMDB), é de um partido diferente do da presidenta eleita.
“Neste caso em particular”, diz o jornalista, “a pessoa a ser instalada [Temer] está afundada em corrupção: acusado por informantes de envolvimento em um esquema ilegal de compra de etanol, ele só foi considerado culpado e só foi multado por violações de gastos eleitorais e enfrenta [o risco de] ficar 8 anos sem concorrer para qualquer cargo. Ele é profundamente impopular: apenas 2% o apoiariam para presidente e quase 60% querem que ele seja impedido (o mesmo número que apoia o impeachment de Dilma). Mas ele vai servir fielmente aos interesses dos mais ricos do Brasil: ele está planejando nomear funcionários da Goldman Sachs e do FMI [Fundo Monetário Internacional] para administrar a economia e, de outro lado, instalar uma equipe totalmente não representativa e neoliberal (composta em parte pelo mesmo partido – PSDB – que perdeu 4 eleições seguidas para o PT).”
#TchauQueridaDay? Tá mais pra #TchauDemocraciaDay! pic.twitter.com/8pS4wWTomY
— Carlos Latuff (@LatuffCartoons) 11 мая 2016 г.
No entanto, qualquer solução para estes problemas deve passar pelo crivo popular do voto democrático, lembra o jornalista, ao invés de recorrer a estratégias golpistas.
“Qualquer estrago que o PT esteja fazendo no Brasil, os plutocratas e seus jornalistas-propagandistas e a quadrilha de ladrões em Brasília que arquitetam essa farsa são muito mais perigosos. Eles estão literalmente desmantelamento – esmagando – a democracia no quinto maior país do mundo”, escreveu o jornalista norte-americano radicado no Rio de Janeiro.
Brazil's oligarchs & their media organs, w/the Right, will achieve today what they couldn't in the last 4 elections: remove PT from power.
— Glenn Greenwald (@ggreenwald) 11 мая 2016 г.
Greenwald destaca especialmente o papel das “elites de mídia brasileiras” neste processo. Segundo ele, as grandes corporações midiáticas justificam o golpe apelando a um suposto combate à “corrupção” e a uma suposta defesa da “democracia”.
“Como qualquer um que seja minimamente racional pode acreditar que isso é sobre ‘corrupção’ quando eles estão prestes a instalar como presidente alguém muito mais implicado na corrupção do que a pessoa que eles estão removendo, e quando as facções que serão empoderadas são corruptas além do que pode ser descrito?”, pergunta o autor do artigo.
Ainda segundo Greenwald, a plutocracia na oposição tem medo de colocar Temer no mesmo bote do impeachment porque a perspectiva de convocar novas eleições gerais no país seria o mesmo que enfrentar o risco de ver Lula novamente empossado pelo voto popular.
“Como alguém que vive no Brasil há 11 anos, tem sido inspirador e revigorante assistir a um país de 200 milhões de pessoas jogar fora os grilhões de uma ditadura militar de direita de 21 anos (apoiada pelos EUA e pelo Reino Unido) e virar uma democracia jovem e vibrante e depois prosperar sob ela. Ver quão rapidamente e facilmente ela pode ser revertida – abolida em tudo, menos no nome – é ao mesmo tempo triste e assustador de assistir”, concluiu Greenwald.