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Consultor avalia que classe média pode pagar a maior conta dos ajustes

ENTREVISTA COM CAIO MANHANELLI 2 DE 12 05 16
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O afastamento da presidente Dilma Rousseff, com a aprovação do pedido de impeachment pelo Senado, e a posse do vice Michel Temer na presidência, nesta quinta-feira, 12, marcam um período de grandes desafios para o novo governo que não deve ter, segundo analistas, facilidade em aprovar as reformas necessárias a curto prazo.

O diretor da Associação Brasileira de Consultores Políticos (ABCP) na capital paulista, Caio Manhanelli, é um dos especialistas que prevê dificuldades de gestão para a nova administração mesmo que Dilma permaneça afastada pelo prazo máximo de 180 dias, fixados para conclusão das investigações no Senado sobre se cometeu ou não crime de responsabilidade fiscal. Em relação aos 21 nomes do novo ministério, também anunciados nesta quinta-feira, o consultor não se mostrou surpreso.

"A formação do novo ministério é resultado desse arranjo político que o Temer está fazendo para acalmar um pouco a base política e não a eleitoral. O PT dormiu com o inimigo e, se não tivesse dormido com o inimigo, não teria também alcançado a eleição de Dilma e nem a reeleição do próprio Lula, que só entra na presidência no momento em que ele diminui o discurso marxista e que dá espaço para a elite já estabelecida. José de Alencar, por exemplo, era um dos maiores empresários têxteis do país. Esse rearranjo político foi seguido até um ponto insustentável até a reeleição de Dilma. Depois que a gente vê um ministro que é isentado para votar em Dilma e vota contra, fica claro que se aliar com PP, com PR, PSB só podia gerar essa pseudotraição."

Assim como outros observadores, Manhanelli também notou a total ausência de nomes femininos na composição do novo ministério.

"A formação machista do novo governo ficou muito clara. Há uma falta muito grande do emponderamento das mulheres como representantes políticas de fato neste país. E não é só aqui. Isso se estende para o mundo como um todo. O mundo ocidental é muito machista e ainda falta capacitar as mulheres neste papel de representantes."

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Segundo o diretor da ABCP em São Paulo, as comemorações da parcela da população que defendiam o impeachment têm prazo de duração.

"As perspectivas é que essa euforia não vai durar. É uma grande inocência acreditar que o governo Temer vai mudar o Brasil do dia para a noite. Estamos passando por um ciclo do capitalismo que promete a mesma coisa que o socialismo: equalizar as diferenças sociais, um pela via estatal e o outro pela via de mercado. Pela via de mercado é descontrolada no sentido central do Estado, onde os interesses pessoais e individuais falam mais nesse projeto de equalizar a sociedade. Temos ciclos de crises nos países centrais e nos países periféricos se a gente lembrar da teoria da dependência da qual Fernando Henrique é signatário."

Manhanelli lembra que quando houve a crise nos anos 30, nos Estados Unidos, houve um crescimento dos países periféricos, como Brasil e Argentina e de figuras emblemáticas como os presidentes Getúlio Vargas e Juan Peron. Segundo o consultor, eles alcançam uma forma de revitalizar e criar um mercado interno, porque as empresas começam a trazer dinheiro para os países periféricos já que os países centrais estavam em crise. Quando os países centrais voltarão a se equilibrar economicamente, o dinheiro voltou para os países de origem.

"É isso que estamos vendo hoje. Não adianta governo nenhum prometer mundos e fundos. Durante dois anos o que Temer vai encontrar é uma crise de proporção mundial. Quem saiu da linha da miséria e come carne como rico, que antes comprava pé de galinha hoje pode comprar um bife, não vai voltar a comer pé de galinha, mas a classe média, sim, vai sentir essa crise, vai parar de viajar a Miami, parar de comprar chocolate belga, vai ter que se adaptar a um novo ciclo econômico."

O diretor da ABCP lembra que Dilma vai passar por um julgamento que pode durar 180 dias, mas quem vai presidir esse processo não será o presidente do Senado, Renan Calheiros,  e sim o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski.

"Com o impeachment pode haver um aumento de apoio não ao PT em específico, mas à imagem de Lula desde que o argumento de vitimização seja manejado principalmente junto à população que tem memória do que foi o final do governo de FHC e os começos dos governos Lula, que seu consumo de subsistência é muito melhor do que lá atrás. Essas pessoas podem aderir a esse discurso eo, o PT pode ir de volta um pouco mais à esquerda."

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