- Sputnik Brasil
Notícias do Brasil
Notícias sobre política, economia e sociedade do Brasil. Entrevistas e análises de especialistas sobre assuntos que importam ao país.

Governo tenta mudar comando da EBC, responsável pela comunicação pública no país

ENTREVISTA COM RITA FREIRE
Nos siga no
Mais um setor da vida brasileira vive momento de polêmica e apreensão com a decisão do novo governo de substituir o comando da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), órgão responsável pela coordenação e produção da comunicação pública no país.

O presidente Michel Temer quer substituir o atual diretor-presidente da EBC, Ricardo Melo, pelo também jornalista Laerte Rimoli. O atual dirigente, contudo, tem mandato de quatro anos garantido pela Lei 11.652/2008. A notícia causou ainda mais apreensão no meio após a notícia divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo que, para evitar problemas jurídicos, a substituição de Melo pode vir através de medida provisória, alterando não só a composição da diretoria mas toda a estrutura do órgão.

A lei que criou a EBC preve o mandato de quatro anos justamente para não coincidir com o do Presidente da República, garantindo, assim, a independência dos canais públicos. Exonerado na terça-feira, 17, Melo entrou com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF), alegando que a demissão viola um ato jurídico perfeito e fere a autonomia da radiodifusão publica. O atual dirigente da EBC foi nomeado pela presidente Dilma Rousseff em 3 de maio. nove dias antes de seu afastamento determinado pelo Senado. A estatal, segundo assessores de Temer, atendia a interesses ideológicos do PT e agora precisa atender ao interese público e divulgar ações do governo.

A presidente do Conselho Curador da EBC, Rita Freire, diz que é grande a expectativa quanto à decisão do ministro José Antonio Dias Toffoli, que analisa o mandato de segurança impetrado por Melo. Segundo ela, não se  trata da mera substituição de um gestor. 

"O que está em discussão é uma lei que criou a EBC e constitui um sistema de comunicação pública no Brasil previsto pela Constituição, que prevê a complementariedade da comunicação que tem a mídia privada e a estatal, mas que tem um setor fortalecido, assegurado pela Constituição que é da comunicação pública que não pertence ao governo, ao mercado a partidos e, sim, à sociedade brasileira."

Segundo Rita, para assegurar essa independência, essa autonomia, a lei definiu que o mandato do presidente da EBC seja de quatro anos. Assim, o dirigente só pode ser substituído se cometer alguma falta grave que mereça a desconfiança da sociedade e voto de desconfiança do Conselho Curador, que é formado por representants da sociedade, de ministros, do Congresso.

Dilma Rousseff, presidenta do Brasil - Sputnik Brasil
Notícias do Brasil
Dilma defendeu diversidade durante abertura do Congresso Brasileiro de Radiodifusão

"O que estamos vivendo hoje nesse governo interino que tem tomado medidas drásticas em várias áreas é uma violação dessa lei. O presidente não pode destituir um presidente já nomeado. As medidas estão sendo tomadas sem debate com a sociedade e, nesse caso, em flagrante violação da lei."

Rita alega ainda que, ao ferir essa legislação, o governo sinaliza que a atual administração pode não entender a importância da comunicação pública que é formado por uma TV, uma TV internacional, uma agência de notícias que fornece informação para toda a imprensa, nove rádios, uma rádioagência e um portal. 

"São vários veículos, muitas atribuições que têm a vigilância da sociedade através do Conselho Curador para que ela atenda aos interesses públicos e não ao de partidos ou empresas. Apesar de tudo, buscamos fortalecer nossa confiança na Justiça porque nesse momento o país precisa confiar no seu sistema democrático, que está abalado pelos acontecimentos que estamos vivendo nesse momento. Este não é o momento de sacrificar bens conquistados pela sociedade e pela democracia, principalmente nessa área da comunicação em que a voz do povo brasileiro tem tão pouco espaço. Temos uma cultura de mídia privada que atende aos interesses de negócios. Essa experiência deveria ser preservada e nós teríamos ainda muito a amadurecer com muito diálogo, debate, laboratório e inovação. O espaço para isso é a EBC e seus veículos. Se perdermos isso, será colocado em risco todo esse projeto que é novo, fruto de uma democracia que também é muito jovem no país."

Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала