Hoje, pouca gente sabe quem foi o engenheiro naval que deu seu nome à rua da cidade.
Pedro Epichin, o russo que se tornou brasileiro
Não há nenhuns dados oficiais sobre o seu nome real ou origem. Podemos somente colocar a hipótese de seu nome ser Pyotr, que pode ser considerado o análogo russo do nome Pedro, enquanto o seu apelido, Epishin podia se ter transformado em Epichim sob a influência da fonética do português brasileiro.
O único retrato conhecido de Pedro Epichim, que faz parte do acervo do Museu de História de Regência, mostra um homem jovem em uniforme militar de marinheiro. O único detalhe da sua aparência que pode contar-nos mais do que sabemos é a inscrição na fita ao redor de seu boné. Indica que, muito provavelmente, prestou o serviço militar no cruzador Zabaikalets (por tradição, no Império Russo as fitas dos bonés dos marinheiros tinham os nomes dos navios nos quais prestavam serviço, agora têm o nome de Frota na qual marinheiros prestam serviço). Conforme algumas informações, o cruzador Zabaikalets foi lançado ao mar em 1906 e, a partir de 1907, foi colocado ao serviço na Frota do Mar Báltico do Império russo.
No Império russo os marinheiros eram a elite das Forças Armadas. Como regra, somente os nobres se podiam tornar oficiais da Marinha. Recebiam uma boa educação e destacavam-se como homens leais ao Czar russo. Muito provavelmente, Pedro Epichim era filho de fidalgos russos, mas isso é também somente uma hipótese.
Ao mesmo tempo, o jornal O Colatinense publicou informações que confirmam que a sua travessia do oceano Atlântico podia ter sido efetuada ainda antes do começo da Primeira Guerra Mundial. Qualquer que seja a verdade, segundo José Tristão Fernandes, Pedro Epichim desembarcou de um navio russo que aportou à cidade de Vitória e acabou ficando no Brasil, onde também encontrou uma mulher com quem se casou. Ele viria a ter 8 filhos e 21 netos.
"Era engenheiro naval e foi ter às oficinas de Vitória-Minas, em João Neiva", cita Sam de Mattos Jr a publicação de José Tristão Fernandes.
O presidente do Espírito Santo (1924-1928) Florentino Avidos encontrou o imigrante russo e confiou-lhe "a missão de montar as peças e erguer o maquinário de aço".
Foi assim que Pedro Epichim, engenheiro naval russo, se tornou comandante do vaporzinho brasileiro chamado pelos colatinenses de Velho Comandante ou Almirante.
O Juparanã
“Durante o percurso, o vapor parava muitas vezes perto de algum barranco onde havia uma bandeira branca, sinal certo que indicava a presença de passageiros ou cargas. Outras vezes parava para se abastecer de lenha que alimentava a caldeira e fazia girar as grandes rodas, rodas em forma de pás que moviam o barco”, escreveu Maria Lúcia.
O vapor foi local de encontros interessantes, de aventuras e novas experiências durante as viagens no rio Doce, que naquela altura era caudaloso.
A história das viagens do Almirante Epichim acabou em um naufrágio. Por muitos anos, o velho vapor continuou à beira do rio Doce.
A paisagem do rio mudou muito. Agora ele não é tão caudaloso como antes. A catástrofe que atingiu o rio em 2015 arruinou a beleza e biodiversidade do seu leito.
A grande missão do marinheiro russo
Segundo várias fontes, a missão do imigrante russo não era somente transportar pessoas e cargas entre diferentes pontos das margens do rio, mas contribuir para a colonização e desenvolvimento do Vale do Rio Doce. Entre outros pormenores conhecidos, sabe-se que Pedro Epichim não aceitava pagamentos pelo transporte de lavradores que chegaram para a região e não tinham forma de pagar. As recordações de muitas pessoas provam que era um verdadeiro filantropo que agia nos interesses de toda a nação brasileira, um homem forte que tinha a vontade de se abrasileirar para cumprir a sua missão de forma melhor.
As pessoas que conheciam Pedro Epichim estão morrendo e hoje poucos podem recordar o tempo em que o vapor com o comandante russo a bordo aportava em Colatina vindo de Regência.
Agradecemos ao ouvinte da rádio Sputnik Emerson Eleoterio do Rio de Janeiro pela ideia da matéria e informações iniciais.