A passagem de Liliana pela embaixada americana no Paraguai suscitou muitas críticas sobre um possível envolvimento dos EUA no afastamento do presidente. O próprio Lugo, substituído pelo vice, Federico Franco, declarou que o impeachment foi um golpe "organizado por Washington". Um dos fundamentos para essa afirmação era de que a embaixadora foi funcionária da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USaid, na sigla em inglês).
A indicação de McKinley para ocupar o cargo no Brasil ainda depende tanto da aprovação do Congresso americano quanto do Congresso brasileiro, mas especialistas em diplomacia acreditam que a aprovação deva ser rápida. O professor de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília (UCB) Creomar de Souza é um dos que não vê qualquer empecilho para ratificação do nome de McKinley nas duas casas. O novo indicado tem no currículo passagens por diversas embaixadas latino-americanas como Colômbia, Peru e Bolívia, além de ter trabalhado nas representações da União Europeia, Uganda, Moçambique e Reino Unido. Filho de pais americanos, McKinley nasceu na Venezuela e viveu boa parte da infância no Brasil e no México.
A indicação do novo embaixador divide a opinião de especialistas. Alguns creditam a escolha de seu nome a uma mudança na postura de Washington em relação ao Brasil após o afastamento da presidente Dilma, enquanto outros acreditam que a substituição de Liliana Ayalde tenta construir uma ponte de diálogo tanto com o novo governo interino quanto com a oposição. O professor da UCB acredita que a indicação não é uma guinada, sendo mais um ajuste:
"Quando se trata de relações entre Estados Unidos e América Latina, e o Brasil não é diferente, sempre há aqueles momentos em que, quando a temperatura política sobe muito, alguns dos lados afirma que os EUA assumiram o partido e são responsáveis em alguma medida pela crise."
Segundo o especialista, Liliana Ayalde esteve aqui de 2014 até o presente momento e pegou a crise no seu maior momento de ebulição.
"Antes que as narrativas façam com que os EUA assumam um lugar que tradicionalmente é ocupado nos discursos políticos de hegemonia americana na América Latina, a mudança é estratégica. Primeiro porque você tem um fim de governo nos EUA e ainda não se sabe ao certo quem vai ser o vencedor e como a relação vai ser posta no próximo ano, e também pelo fato de que um novo embaixador pode simbolizar um trânsito mais fácil entre as estruturas políticas não só do governo interino como das forças de oposição. Os Estados Unidos vão ter que dialogar com todo o espectro político brasileiro para manter as relações em boa qualidade."
Com relação a uma possível interferência dos EUA no impeachment do presidente paraguaio, Souza observa que algumas das incompreensões sobre o processo de afastamento do presidente Lugo devem-se muito mais às incompreensões expressas na própria Constituição paraguaia do que do próprio ambiente político.
"Tínhamos uma situação em que o presidente não tinha nenhum senador eleito a seu favor, e a Constituição não dava um prazo específico para o trâmite do processo, então foi tudo muito rápido. De outro lado temos sempre esse elemento que permeia o inconsciente coletivo, principalmente das esquerdas latino-americanas, de que os EUA agem sempre com algum tipo de externalidade daninha em prevalência a governos ditos populares. Não que os Estados Unidos não tenham causado interferências no cenário latino-americano no passado."
Souza observa que a troca do embaixador americano no Brasil tem também esse componente preventivo e objetiva tentar oxigenar o ambiente, tendo em vista que a temperatura do cenário político tem subido muito. O especialista também acredita que a aprovação do nome de McKinley será rápida.
"A aprovação por parte do Congresso americano deve ser bastante rápida. Agora resta saber se as mudanças propostas por esse governo interino no Brasil terão tempo de serem operacionalizadas."