Naquela noite, Omar, que trabalhava como vigilante e havia comprado uma arma de fogo recentemente, invadiu a boate Pulse, frequentada por homossexuais, e fez vários disparos. No total, 50 pessoas foram mortas: 49 foram assassinadas a tiros por Omar além dele próprio em confronto com a polícia.
Tão logo foram divulgadas as primeiras notícias sobre a tragédia, o Estado Islâmico reivindicou a autoria dos atentados em comunicado postado na Internet, o que tornou a fazer em várias outras ocasiões no decorrer do domingo. Entretanto, as autoridades norte-americanas – entre as quais o FBI e o próprio Presidente Barack Obama – consideram prematuro antecipar afirmações categóricas sobre esta alegada vinculação.
A mesma opinião tem o Professor de Relações Internacionais Ricardo Cabral, pesquisador e colaborador da Escola de Guerra Naval além de estudioso sobre questões relacionadas ao terrorismo internacional:
“A princípio, esta reivindicação de autoria do atentado pelo Estado Islâmico me parece uma questão de oportunismo já que a organização terrorista sugere estar querendo tirar proveito da situação. O que se sabe de concreto até o momento sobre Omar Saddiqui Mateen é o que sua família informou aos policiais: o pai disse que ele era um sujeito homofóbico, que não tolerava homossexuais e que seu ódio por estas pessoas só aumentava quando ele via dois homens se beijando. E a ex-esposa dele contou que ele era um sujeito desequilibrado e que a agredia constantemente. Então, eu não quero afirmar nada categoricamente neste momento mas estou inclinado a acreditar que as ações de Omar Mateen foram as de um “lobo solitário”, o terrorista que planeja e age individualmente embora se sinta ligado à uma organização como, no caso, o Estado Islâmico. À primeira vista, não me parece que esta sua ação tenha sido planejada pela organização terrorista.”
Na avaliação de Ricardo Cabral, os posicionamentos de Omar Mateen eram meramente individuais:
“Nós sabemos como a lei islâmica vê a questão da homossexualidade mas não há nada no Corão que permita a interpretação de que os homossexuais devam ser combatidos e eliminados. Este posicionamento abominável era do Omar Mateen e não deve ser visto, em hipótese alguma, como uma determinação religiosa. A visão preconceituosa era do assassino e de vários outros assassinos que pensam como ele pensava. Não se pode generalizar e acusar a religião muçulmana de ser intolerante. A intolerância e o preconceito são de alguns indivíduos.”
E sobre a motivação dos chamados “lobos solitários” o que diz o Professor Ricardo Cabral?
“Há vários estudos sobre esta questão. Todos os autores que se dedicam à esta questão convergem para o mesmo aspecto, a questão psicológica destes “lobos solitários.” São, em princípio, homens vulneráveis, facilmente sugestionáveis pela propaganda na Internet e que se deixam empolgar pelo impacto das ações terroristas. São pessoas que se tornam presas de discursos inflamados e extremistas, que acabam dando suas próprias interpretações ao que ouvem e leem, e como resultado, acabam perpetrando atrocidades. Estes são os lobos solitários, homens que agem por si mesmos mas que se consideram enviados por supostos líderes para cometer ações bárbaras e criminosas, de extrema gravidade.”