Lisboa — As cores alegres da bandeira do arco-íris do movimento LGBTT (a sigla de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) em nada combinavam com os olhares de tristeza e revolta de centenas de jovens. Cartazes com mensagens de protesto de quem se sentiu diretamente atingido pelo ataque homofóbico que matou 50 pessoas nos Estados Unidos foram colados no monumento localizado no centro da Praça da Figueira, em Lisboa.
O ato na capital portuguesa foi convocado pelas redes sociais no início da semana e mobilizou centenas de pessoas que já se preparam para repetir o protesto no próximo sábado na Marcha do Orgulho LGBTT. Todos que chegavam acendiam uma vela ao pé do monumento e paravam pensativos diante dos cartazes de apoio. Alguns não conseguiam segurar a emoção ao lembrar os jovens que foram assassinados em uma boate gay do outro lado do Atlântico.
"Senti como se fosse aqui", disse o jovem Miguel Coelho. Ele relatou que quando soube do ataque passou um triste domingo. Questionado sobre a motivação do crime, objeto de debate entre muitos, ele e os amigos não têm dúvidas ao apontar homofobia. "É tudo tão óbvio que é difícil explicar, é só sentir", diz, argumentando que quem não entende o ataque como um ato homofobico "não percebe porque não sente na pele o que é ser como nós".
Entre as diferentes manifestações presentes nos cartazes, ataques contra a "islamofobia" e a permissão de venda de armas nos Estados Unidos.
"Acabar com as armas é um primeiro passo", defende João Marques. "Acabar com as armas é mais fácil do que acabar com o preconceito", completa Rita Reis, amiga dele, ao lado.
Para o vice-presidente da Associação ILGA (Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgênero) de Portugal o ataque foi sem dúvida "um crime contra a comunidade LGBTT".
"A não referência também é um sinal de homofobia, pois remonta ao silêncio imposto à comunidade LGBTT durante anos", diz Paulo Corte-Real. Ele argumenta que esse momento de visibilidade das lutas do movimento também serve para "marcar a nossa resistência ao medo".
"Em Portugal temos igualdade mas o discurso do ódio continua aí. Ainda há muitas pessoas que praticam o insulto e a agressão", diz Paulo Corte-Real.
Ele lembra que, apesar dos avanços, quem contabiliza os dados de casos de violência ou preconceito contra homossexuais no país não são os orgãos oficiais do governo, mas sim associações independentes como a ILGA.
Os protestos em Portugal para lembrar as vítimas do ataque de Orlando devem continuar nas próximas semanas, pois este é um mês de dois grandes eventos da comunidade LGBTT no país. No próximo sábado, Lisboa acolherá a marcha anual do Orgulho LGBTT e, na semana seguinte, o arraial da diversidade, dentro das comemorações das Festas da Cidade.