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Mujica à Sputnik: política da Europa com a Rússia é pouco inteligente

© AP Photo / Matilde CampodonicoPresidente do Uruguai, José Mujica.
Presidente do Uruguai, José Mujica. - Sputnik Brasil
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O ex-líder uruguaio, José Mujica, é provavelmente o único presidente no mundo que demonstra um real exemplo de ascetismo ao seu povo. Embora ser chamado pela mídia de ‘o mais pobre presidente do mundo’, ele refuta de forma sucinta, afirmando que possui tudo que precisa.

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O mandato presidencial de Mujica terminou no ano passado. O povo do Uruguai preparou para ele uma despedida solene, e ele continuou a viver como ele vivia — sem privilégio presidencial, sem segurança, sem secretários e carros Mercedes, em uma fazenda modesta, onde cultiva legumes e flores.

Mujica irá apresentar nos próximos dias, no complexo memorial e turístico "Andrichgrad", na República da Sérvia, Mujica irá apresentar o livro "Memorias del Calabozo", em que descreve sua biografia através da história dos "Tupamaros" — radicais de esquerda que roubavam bancos e davam dinheiro aos pobres

Ao falar com exclusividade à agência Sputnik, o ex-presidente do Uruguai iniciou a entrevista enviando uma mensagem à Rússia: 

“Meu país sempre teve uma boa relação política e econômica com a Rússia. Nós gostaríamos que a Rússia tivesse contatos mais sérios com o sul da América Latina.”

Agência Sputnik: E porque agora as relações não estão tão boas? Qual é o problema?

José Mujica: Nós agora estamos muito dependentes do comércio com a China, mas nós percebemos que precisamos cooperar com outros países. E aqui colocamos a Rússia em primeiro lugar.

AS: Como podemos alcançar isso?

JM: Apenas com esforços diplomáticos muito sérios. Ao longo da história nós comercializamos ativamente com a Rússia, fornecemos muitos produtos, principalmente alimentos. 

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AS: O comércio foi interrompido após o rompimento da União Soviética? 

JM: Não. Após a dissolução da União Soviética nós continuamos o comércio. Na verdade a questão é que a Rússia é um país distante. Ela teria que lançar atenção sobre o Atlântico. Se a Europa fechar, a América Latina pode se abrir. 

AS: Falando da Europa, você poderia comentar sobre o ‘Brexit’, a decisão do povo britânico de sair da União Europeia?

JM: Eu acho que após o ‘Brexit, se ele tiver resultados concretos, nós vamos observar um enfraquecimento da União Europeia, embora eu duvido que o Brexit realmente aconteça. Nos países europeus, está crescendo o ultranacionalismo. Eu não sou contra o nacionalismo per se, eu acho que é um sentimento natural, mas quando o nacionalismo se torna agressivo, ele cria um perigo para o mundo inteiro. Disso não sai nada de bom. São possíveis conflitos. Nós temos uma experiência muito ruim com isso, e eu não gostaria de reforçar os sentimentos ultranacionalistas na Europa. Isso, novamente, é perigoso para o mundo inteiro. 

Não tenho dúvidas de que a política europeia com a Rússia tem sido desajeitada, tem sido pouco inteligente.

AS: Qual a sua opinião sobre a atual relação entre a Europa e a Rússia? 

JM: Não tenho dúvidas de que a política europeia com a Rússia tem sido desajeitada, tem sido pouco inteligente. Porque mesmo De Gaulle viu a Europa em seus sonhos até aos Urais. Tinham que ter entendido as dimensões da Rússia lhe dão status de ponte para todo o resto do mundo. A Europa não deve iniciar um conflito com a Rússia, porque ao fazê-lo, obriga a defender-se. E o maior dano é feito não só na Rússia, mas também na Europa. Esta é uma grande perda para a União Europeia, e, portanto, esses conflitos são inúteis. Não tenho a certeza que para atrás de tal política da UE não existe uma mão invisível dos Estados Unidos. Isto é claro, se a Europa se enfraquecer, os Estados Unidos irão se reforçar, e isso é ruim. O principal objetivo dos Estados Unidos é reduzir o prestígio internacional da China.

AS: Finalmente, gostaríamos de saber, o que você faz agora? Há uma lenda de que é o político mais pobre do mundo.

JM: Isto são lendas. Eu sou um republicano até a morte. As repúblicas apareceram para dizer não para os reis. Não a aqueles que acreditam que há diferença no sangue. Em uma república, a decisão tem de ter a maioria. Eu tento viver como a maioria do meu povo e não a minoria privilegiada. Eu não tenho culpa se outros tomam caminhos tortos e querem usar a política para viver fantasiosamente, como os ricos. Para mim, a política não é uma profissão, é uma paixão. Eu não entrei na política para ganhar dinheiro, eu coloquei na política toda a minha vida. Então se equivocam se dizem que sou pobre eu sou pobre. Eu não sou pobre, eu vivo com o essencial.


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