O presidente do Senado, Renan Calheiros, reuniu-se com a presidente afastada Dilma Rousseff nesta semana para conversar sobre o andamento do processo de impeachment e inteirá-la dos procedimentos adotados, atuais e futuros.
Nas palavras de Renan Calheiros, reproduzidas no site do Senado Federal, “a Presidente Dilma Rousseff continua aguerrida. Triste, mas aguerrida. Ela aproveitou a oportunidade da conversa para me recomendar ponderação e equilíbrio. Dilma acredita que essas coisas estão em falta no Brasil, comemorou o fato de ter alguém na Presidência do Senado que converse com todos e disse entender isso como algo bom para a democracia”.
Ainda de acordo com o relato do presidente do Senado, Dilma Rousseff quis saber de Renan sobre a agenda do processo de impeachment.
“Eu respondi que nós terminamos a fase da inquirição das testemunhas e que teríamos, a partir de agora, a discussão das perícias; depois, as alegações finais; a pronúncia ou impronúncia; e o julgamento final, que, se for o caso, deverá acontecer por volta do dia 20 de agosto. A presidente disse que irá colaborar para que esse calendário seja cumprido.”
Renan disse ainda que ambos fizeram avaliações sobre a situação econômica, política e fiscal do Brasil, mas ressalvou que Dilma não quis fazer considerações sobre o desempenho do presidente interino Michel Temer e seu Governo. No entanto, Dilma observou que a crise é grave, e por isso algumas mudanças precisam ocorrer.
Renan disse ainda que Dilma perguntou pela tramitação da Proposta de Emenda Constitucional que prevê a antecipação da eleição presidencial, e ele explicou que “são necessários 3/5 dos votos da Câmara e do Senado para que essa questão avance”. Na opinião de Renan Calheiros, não há possibilidade de essa perspectiva preponderar. Para o presidente do Senado, “a única solução posta, que nós temos no Brasil, constitucional, é a continuidade do presidente da República em exercício [no caso, Michel Temer]”.
A respeito do diálogo entre Dilma Rousseff e Renan Calheiros, Sputnik Brasil conversou com um dos parlamentares mais próximos da presidente afastada, o líder do Partido dos Trabalhadores no Senado, Humberto Costa (PT-PE). Ex-ministro da Saúde do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Humberto Costa considerou a experiência como favorável:
“No meu modo de ver a situação, o diálogo entre Dilma Rousseff e Renan Calheiros foi altamente positivo. Neste difícil momento político que o país está vivendo, a presidente da República, ainda que afastada, dá uma demonstração de grandeza ao convidar o presidente do Senado para uma conversa franca e aberta, na qual ela se colocou à inteira disposição dos Poderes Legislativo e Judiciário para que todo o calendário do seu processo de impeachment seja observado e cumprido. Então, tenho tudo para acreditar que este foi um momento verdadeiramente importante para a vida política nacional.”
O Senador Humberto Costa também comentou o atual estado de ânimo da presidente afastada:
“Como disse o presidente do Senado, Renan Calheiros, a Presidente Dilma Rousseff está serena, calma, tranquila, porém triste. Mas nem por isso menos esperançosa, assim como todos nós do Partido dos Trabalhadores, de que será possível reverter o resultado obtido na Comissão Especial do Impeachment do Senado que concluiu pela admissibilidade do processo. Digo isto porque, diante de tanta fragilidade do Governo interino do Sr. Michel Temer, diante de tantos fatos irregulares que estão vindo a público, envolvendo seus ministros, aumentam as possibilidades de o Plenário do Senado votar pela absolvição de Dilma Rousseff, de modo que ela possa retornar ao pleno exercício da Presidência da República.”
Está previsto para a próxima semana o comparecimento de Dilma Rousseff ao Senado, para apresentar a sua defesa, embora ela tenha a opção de se fazer representar por seu advogado, o ex-ministro da Justiça e ex-advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo. Até o momento, porém não há qualquer decisão neste sentido, segundo Humberto Costa: “A presidente afastada está avaliando com seus assessores mais próximos, com seu advogado e com os parlamentares do PT, e no momento oportuno decidirá se comparecerá ao Senado para apresentar sua defesa ou se será representada pelo seu defensor.”