Em Lausanne, na Suíça, o Museu Olímpico da cidade montou uma exposição chamada Destination Rio, que funcionará até setembro. Lá, uma das atrações é um aparelho que tenta traduzir o "carioquês", para o turista que vier ao Rio durante os Jogos Olímpicos. O idioma oficial do carioca, repleto de gírias e por vezes incompreensível até para muitos brasileiros, é explicado em dez palavras consideradas "fundamentais" pelos organizadores.
Entre as palavras que procuram traduzir a alma do carioca estão algumas de gosto duvidoso como "muvuca", "gostosa", "bundão" e "Copacabana". As palavras surgem em um telão, com a explicação do significado em francês. O interessado em ficar fluente no "carioquês" tem ainda à disposição um microfone para "treinar" a pronúncia que é avaliada pela máquina, que só responde "valeu" ao final.
Sem "levar um por fora", e atendendo à histórica tradição de hospitalidade da cidade, alguns moradores do Rio enviaram à Sputnik sugestões de vocabulário básico para "os gringos" não fazerem feio durante sua permanência no Rio. Quase todos lembram que, embora muitas dessas palavras estejam no dicionário, o significado por vezes é muito diferente do original.
O funcionário público Carlos Gilson Alvarenga lembra de quatro ícones do legítimo "carioquês": "bolado" (no significado de estupefato, preocupado), "maneiro" (legal na versão "cool" dos americanos), "vacilar", no sentido de dar uma mancada, hesitar e "valeu" o término obrigatório em dez de cada dez frases ditas pelo carioca, que substituiu o "obrigado" pela expressão, que ainda pode significar "tchau".
A professora Hosana Bastos acrescenta a esse dicionário de "carioquês" mais duas pérolas locais: "qualé" (síntese da pergunta qual é?, toscamente traduzida pela saudação e aí?) e "mané", literalmente pessoa boba.
Joelma Larroque, técnica de laboratório de análises clínicas, contribuiu com o carinhoso "fala show" (diz aí, amigo), "meu brother" (meu irmão, que no Rio não tem o significado literal de irmão e quer dizer amigo).
Os integrantes da Agence Rio de publicidade também fizeram questão de entrar nesse mutirão. O diretor executivo Gabriel Medeiros elegeu o diplomático "desculpa", enquanto Alexandre Stefani, outro diretor, saiu na mesma linha com o "de nada" e o enigmático "brigadão", que o turista estrangeiro poderia confundir com brigadeiro, mas que na verdade é um "muito obrigado" exagerado. Mais prática, Marina Gonçalves, relações públicas, diz que o gringo não pode deixar de aprender a dizer "olá", "táxi" e, sinal dos tempos, "delegacia".
O engenheiro civil William David Alvarenga elegeu o "boralá", síntese que só os cariocas conseguem fazer para a expressão "vamos embora para lá", o popular "partiu" (no sentido de tomada de decisão) e "beleza", que não se restringe a um simples elogio, mas pode significar também um consentimento ou resposta de entendimento ao que foi falado.
David Alvarenga, técnico de segurança do trabalho, aconselha aos turistas estrangeiros a recorrerem sempre a dois outros ícones do linguajar carioca: "aí se liga nessa parada", que não tem nada a ver com transporte, podendo ser traduzida como "preste atenção nisso" e "fala sério", expressão que pode traduzir incredulidade ou discordância.
Marcela Gonçalves contribui para o esforço de entendimento mundial com a tradicional "bagaça", que pode ser traduzida de mil formas, desde o estado físico da pessoa após uma noite de excessos até o fim de algo ou esgotamento. Outra contribuição é "treta" (discórdia) e "rolo" (imprevisto, situação difícil).
Por fim, Maria Fernanda Lacombe aconselha aos turistas a levarem sempre em seus kits de primeiras necessidades — além de paciência, óculos escuros e repelente — três joias quebra-galhos: "mermão" (abreviatura de "meu irmão", significando meu amigo), "caraca" (expressão de surpresa e interjeição, derivado de um palavrão) e "rolé" (passeio).
Se as sugestões de vocabulário vão dar certo ou não, só o tempo dirá. De qualquer forma, a contribuição vem em boa hora. Valeu, galera!