Para a Deputada Maria do Rosário (PT-RS), integrante da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, a renúncia de Cunha à Presidência da instituição foi muito bem articulada. Em entrevista à Sputnik, a ex-ministra da Secretaria dos Direitos Humanos do Governo Dilma Rousseff analisou o que representa a atitude de Cunha para a política nacional:
“Se, por um lado, a renúncia de Eduardo Cunha à Presidência da Câmara dos Deputados foi vista com certo alívio por parte de quem luta pela democracia no Brasil e se insurge contra o golpe que levou ao afastamento da Presidente Dilma Rousseff, em ação iniciada pelo próprio Eduardo Cunha, por outro lado é parte de uma manobra porque Eduardo Cunha renuncia à Presidência da Câmara mas não ao seu mandato parlamentar. Seu único objetivo é preservar o mandato e as conexões com o Governo de Michel Temer, que ele ajudou a investir na Presidência da República ao acolher o pedido de impeachment da Presidente Dilma Rousseff, que não tem base legal alguma.”
No domingo, 26 de junho, o presidente interino Michel Temer recebeu Eduardo Cunha em sua residência oficial no Palácio do Jaburu, em Brasília. Não foram emitidas informações oficiais sobre este encontro, mas logo depois circularam informações de que Temer havia sugerido a Cunha renunciar à Presidência da Câmara, algo que os aliados do deputado haviam feito anteriormente sem sucesso. E, na quinta-feira, 30 de junho, mais rumores circularam, como os de que a renúncia havia sido decidida na quarta-feira, 29, à noite em reunião de Cunha com líderes do PMDB.
Teria sido acertado que o deputado só faria o anúncio oficial de sua renúncia no início da tarde desta quinta-feira, para que, na parte da manhã, pudesse obter do Supremo Tribunal Federal autorização formal para circular pela Câmara. Desde 5 de maio, Eduardo Cunha estava suspenso da Presidência e do exercício do mandato parlamentar por decisão do próprio STF, e deste modo não poderia circular pela Câmara sem a competente autorização da Corte.
Para a Deputada Maria do Rosário, nada disso foi surpresa:
“Tudo isso foi montado para que seja escolhido um sucessor de Eduardo Cunha fiel a ele próprio e fiel a Michel Temer. Foi Cunha quem articulou todo este quadro que está aí, como o afastamento de Dilma Rousseff e as cogitadas reformas trabalhistas e previdenciárias que nada mais são do que supressoras de direitos conquistados pelas classes trabalhadoras.”
Integrante da Comissão de Constituição e Justiça, Maria do Rosário não se surpreendeu com o voto do relator Ronaldo Fonseca (PROS-DF), recomendando a devolução ao Conselho de Ética do processo de cassação do mandato de Eduardo Cunha, sob o argumento de que a votação nominal, ocorrida no Conselho, transgrediu o Regimento Interno da Câmara, que determina votação sigilosa em processos de cassação de mandato:
“Tudo isso faz parte de uma grande articulação para tentar preservar ao máximo algo que todos nós sabemos estar perdido, o mandato de Eduardo Cunha. Agora, cabe a nós, deputados da Comissão de Constituição e Justiça, votar com serenidade e acerto. Nossa responsabilidade é muito grande perante a sociedade: ou fazemos prevalecer os direitos e interesses da sociedade que nos outorgou seu voto ou manchamos os nossos mandatos, manifestando apoio ao voto do relator e, por extensão, a Eduardo Cunha. A dignidade da Câmara está em nossas mãos.”
O presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Osmar Serraglio (PMDB-PR), transferiu de segunda para terça-feira, 12, a próxima reunião do órgão.