A escolha não foi fácil, 21 sítios concorreram à lista da instituição. Figurar na lista, que hoje inclui 1.031 sítios em 163 países, pode ajudar a facilitar a liberação de apoios financeiros para a preservação e estimular o turismo.
A informação foi comemorada pelo Ministro da Cultura, Marcelo Calero. Em sua conta no Twitter, Calero postou neste domingo: "Viva! Pampulha Patrimônio Mundial!"
Viva! Pampulha Patrimônio Mundial! 🎉🎉🎉🎉🎉🎉🇧🇷🇧🇷🇧🇷🇧🇷🇧🇷🇧🇷 pic.twitter.com/ch8Cnoujrp
— Marcelo Calero (@caleromarcelo) 17 июля 2016 г.
A indicação da Pampulha foi ratificada pelos 21 países integrantes do comitê, por consenso, informou o Ministério da Cultura. Era o único representante brasileiro na disputa.
Encomendado pelo então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, ao arquiteto Oscar Niemeyer, o conjunto contou também com trabalhos de Roberto Burle Marx, no paisagismo, e Candido Portinari, autor do painel externo de azulejos da Igreja de São Francisco de Assis.
Também participaram do projeto original o engenheiro Joaquim Cardozo e os artistas Paulo Werneck, Alfredo Ceschiatti, August Zamoyski e José Pedrosa. Construído nos primeiros anos da década de 40, o conjunto antecipa conceitos arquitetônicos que viriam a ser aplicados anos mais tarde na construção de Brasília.
Compõem o Conjunto Moderno da Pampulha a paisagem que se forma com a integração entre a Lagoa da Pampulha e sua orla, os jardins de Burle Marx, a Igreja de São Francisco de Assis, o antigo Cassino (atual Museu de Arte da Pampulha), a Casa do Baile (atualmente Centro de Referência em Urbanismo, Arquitetura e Design de Belo Horizonte), o Iate Golfe Clube (atual Iate Tênis Clube) e a Praça Dalva Simão (antiga Santa Rosa).
Além das obras de Niemeyer, a paisagem do Conjunto também é composta por jardins projetados por Roberto Burle Marx, painéis em azulejos do pintor Cândido Portinari e esculturas de artistas reconhecidos, entre eles Alfredo Ceschiatti e José Alves Pedrosa.
Em nota oficial, os ministérios das Relações Exteriores e o da Cultura destacam que o comitê recomenda que o Brasil restaure elementos do complexo, amplie o plano de gestão para incorporar os compromissos assumidos no processo de avaliação da candidatura, estabeleça uma estratégia de turismo para a área e adote medidas para melhorar a qualidade da água da lagoa. “Essas providências exigirão a ação conjunta dos governos federal, estadual e municipal, em harmonia com a comunidade local”, disse os ministérios, em nota.
“A Unesco, ao reconhecer o valor universal excepcional da Pampulha, considerou o conjunto como símbolo de uma arquitetura moderna distante da rigidez do construtivismo e adaptada de forma orgânica às tradições locais e às condicionantes ambientais brasileiras. Essa abordagem pioneira, fruto da colaboração entre Oscar Niemeyer, Roberto Burle Marx e Candido Portinari, entre outros grandes artistas, criou uma nova linguagem arquitetônica fluida e integrada às artes plásticas, ao design e à paisagem”, acrescentaram os ministérios.
A Igreja São Francisco de Assis da Pampulha foi inaugurada em 1943. O projeto arquitetônico da igreja, que é considerada a obra-prima do conjunto, é de Oscar Niemeyer. Seu interior abriga a Via Crúcis, constituída por catorze painéis de Cândido Portinari, considerada uma de suas obras mais significativas. Os painéis externos são de Cândido Portinari (painel figurativo) e de Paulo Werneck (painel abstrato).
A sagração da igreja pela arquidiocese, entretanto, aconteceu somente 14 anos depois da inauguração. As autoridades da igreja argumentavam terem se sentido incomodadas com a criação de Portinari, que representou um São Francisco irrealista e de mãos desproporcionais.
No entanto, segundo jornalistas da época, o real motivo do descontentamento dos representantes da igreja seria a forma da construção refletida na lagoa: ela lembraria a foice e o martelo do comunismo, ao qual Niemeyer sempre esteve vinculado.
O brasileiro Niemeyer (1907-2012) é o autor de notáveis projetos arquitetônicos no Brasil e no exterior, entre os quais se destacam os edifícios e palácios de Brasília, a Sede da Organização das Nações Unidas em Nova York e a Sede do Partido Comunista Francês em Paris.
Brasil já tem 20 bens na lista
A diretora de Cultura da Unesco no Brasil, Patrícia Reus, explica que as inscrições para sítios de Patrimônio Mundial da Humanidade acontecem no âmbito da Convenção de 1972. Essa convenção parte da ratificação dos países que se comprometem não só a apresentar bens para serem inscritos na lista, bem como se comprometem não somente a apresentar bens para serem inscritos na lista, mas também a desenvolver uma política de patrimônio natural e cultural em seus países.
"Como parte dessa convenção, a lista do patrimônio,hoje com 1.052 bens inscritos, decorre da apresentação das candidaturas. O Brasil passa a ter agora 20 bens inscritos na lista de Patrimônio Mundial que comprovadamente conseguem demonstrar valores excepcionais e universais desses bens a partir do destaque de dez critérios que justificam a inscrição na lista. São critérios que variam do reconhecimento daquela obra, resultado do gênio criativo humano ou que são importantes em determinado momento da história ou ainda que refletem a integração de um conjunto de valores no âmbito da arquitetura, do paisagismo. No caso do patrimônio natural você tem outros critérios que dizem respeito à especificidade dos biomas e da integridade daquele bem natural."
A diretora da Unesco no Brasil lembra que Minas Gerais inaugurou a lista do Patrimônio Mundial no Brasil com a inscrição de Ouro Preto em 1980, e o estado já soma quatro bens na lista do Patrimônio Mundial. Segundo Patricia, isso favorece o desenvolvimento de ações importantes a nível de estado com o fomento ao turismo, como parte da identidade daquele estado e do próprio Brasil.
"São aspectos positivos decorrentes da inscrição, mas que já vêm sendo debatidos localmente desde o processo de elaboração da candidatura. Muitas vezes, determinadas intenções, como no caso da Pampulha, com a despoluição da lagoa, fazem com que as medidas acabem acontecendo de forma mais rápida. Uma série de compromissos foi estabelecida com a inscrição na lista do Patrimônio Mundial e que a Unesco passa a monitorar a partir de então."
Para o presidente da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, arquiteto Leônidas Oliveira, o estilo revolucionário de Oscar Niemeyer e dos demais artistas se revela na ousadia dos seus traços. Segundo ele, o Brasil estava saindo de um modelo colonial de Arquitetura para adotar as modernas tendências do estilo Bauhaus (anos 20) e também de Le Corbusier.
"Este estilo é revolucionário porque, ao mesmo tempo em que o Brasil adota as novas tendências em voga na Europa cria, simultaneamente, uma Arquitetura própria conjugando Modernidade com inovação e criatividade. Nós costumamos dizer que o Conjunto Arquitetônico da Pampulha é o embrião e a origem de Brasília. Aliás, a Unesco reconhece obras que constituem o Patrimônio Mundial da Humanidade como aquelas cujos autores tenham influenciado outras gerações. E foi o que aconteceu com a Pampulha, com Brasília e com tantas outras criações de Oscar Niemeyer, do seu parceiro Lúcio Costa, de Roberto Burle Marx e também de Cândido Portinari.”