Embora algumas das pessoas ouvidas admitam que há, sim, o risco de algum atentado durante a realização dos jogos, a unanimidade das respostas é que os constantes tiroteios, não só nas linhas expressas, como em todos os bairros da cidade, a qualquer hora do dia, representam uma ameaça maior. Para os entrevistados, a sensação de maior segurança — com a presença de milhares de homens da Força Nacional e das Forças Armadas, reforçando o policiamento na cidade — vai desaparecer logo após o término dos jogos.
Ouça, a seguir, o depoimento de alguns desses cariocas, gente simples do dia a dia, grande parte moradora do subúrbio e das zonas mais carentes da cidade. Da analista de marketing, ao segurança da loja de câmbio, passando pelo técnico de informática e o camelô, todos revelam, com seu jeito simples de encarar a realidade, o que esperam da primeira Olimpíada do Brasil e da América Latina e quais são seus maiores medos.
"Tem tiroteio direto. Estão matando inocentes."
Cristiane, moradora de Guadalupe e vendedora de doces no Centro, diz estar a par das notícias de reforço de segurança, mas afirma que isso não representa muita coisa.
"A segurança do nosso Brasil é muito falha. No bairro em que moro estamos vivendo uma guerra urbana. Os altos índices de criminalidade e a ameaça terrorista são tão perigosos um quanto o outro. Com a guerra urbana, o carioca já está acostumado a conviver, mas com o terrorismo a nossa população não está adaptada. Você até pode ver um terrorista ali, mas não vai saber se ele está com uma bomba. O carioca não tem essa maldade, essa malícia para isso. Outros povos têm porque já sofreram atentados."
Segurança há muitos anos de uma casa de câmbio no Centro, Laércio, morador da Pavuna, é outro carioca cético com relação a dias tranquilos durante os jogos. Segundo ele, a população não está preparada para esse tipo de serviço.
"Para que tivéssemos uma boa Olimpíada, a população tinha que ajudar. Essa nossa situação de crimes, tiroteio, falta de respeito com a população é que me preocupa mais. O terrorista pode até vir aqui, tentar alguma coisa, mas não vai conseguir nada. A população que vive aqui é que me dá mais preocupação."
Bruno Conde, técnico de informática, morador no Tanque, em Jacarepaguá, trabalha no Centro diz que não está a par dos planos para a Olimpíada, mas admite que há mais segurança no Centro, embora ainda continuem os assaltos, com a prisão de muitos pivetes. Com relação aos tiroteios, ele diz que a situação piorou muito por ocasião dos preparativos para a Olimpíada.
Marco Antônio, morador de Santa Curz, na Zona Oeste, diz que só sabe dos planos de segurança pelo que tem lido nos jornais, mas torce para que tudo corra bem. Ainda assim, ele se mostra apreensivo.
"A violência no Rio de Janeiro é muito grande. Essa sensação maior de segurança (com a presença da Força Nacional e das Forças Armadas) só vai durar até o fim dos jogos. Acabaram os jogos, acabou a segurança. Ir para casa e voltar de casa todo dia é mais perigoso (que a possibilidade de um ataque terrorista)."
Para a analista de marketing Diana de Paula, moradora em Laranjeiras, o risco de um ataque terrorista no Rio era só o que faltava para a via crucis diária do carioca. Diana é uma das poucas que teme mais a possibilidade de ataque de extremistas, e justifica:
"O clima já está ruim há bastante tempo, e o carioca já está até acostumado com notícias negativas. Só falta agora para o carioca ter um atentado, uma coisa impensável para o brasileiro e que agora é uma possibilidade para piorar a situação" – diz Diana, para quem a irreverência do carioca pode atrapalhar os planos de segurança, porque o carioca leva tudo na brincadeira.