Sputnik Brasil conversou com três residentes em Pacaraima: o jornalista e administrador Márcio Coelho, a funcionária pública federal Renata Janaína, servidora do Instituto Chico Mendes, e o empresário Juliano Torquato, dono de um dos maiores supermercados da região, o Mercabox.
Para o supermercadista Juliano Torquato, é fato que os venezuelanos duplicaram o movimento comercial na cidade, tanto que ele se viu obrigado a reforçar estoques e quadro de funcionários. O empresário apontou os itens mais consumidos pelos venezuelanos:
“No começo, eram basicamente 4 a 5 produtos de alimentação, como arroz, trigo, macarrão e óleo de cozinha. Hoje, a situação está assim: são mais ou menos 15 a 20 produtos que os venezuelanos procuram. Além da cesta básica, eles estão incluindo produtos de limpeza e higiene pessoal, como sabonete, sabão em barra, creme dental, desodorante, etc. Então, não é mais só a questão da cesta básica e alimentação. Tem também itens de limpeza e higiene pessoal.”
Juliano Torquato também apontou de quais cidades procedem, em maior número, os venezuelanos que vão fazer compras em Pacaraima:
“Num raio de 600 quilômetros de distância, posso citar cidades como Itumerema, San Félix e uma grande região de garimpo conhecida como 88. É uma vasta região que abriga entre 30 mil e 40 mil pessoas. Hoje, o auge da produção da Venezuela é o minério, e é da produção do minério que os venezuelanos daquela área obtêm os recursos para gastar em Pacaraima. Assim, eles ficam bem próximos daqui.”
O jornalista Márcio Coelho também confirma o aumento do número de venezuelanos em sua cidade:
“Desde o começo do ano, a gente percebeu este aumento na região de fronteira, inclusive no número de venezuelanos na porta da sede da Polícia Federal. É lá que eles apresentam seus pedidos de entrada no Brasil, não só para Pacaraima como também para Boa Vista, capital do nosso Estado, Roraima. Mas há muitos venezuelanos trabalhando na informalidade. Inclusive, alguns deles estão sendo deportados por estar trabalhando ilegalmente no Brasil. Eu também estive recentemente em Manaus, capital do Amazonas, e lá verifiquei uma grande quantidade de venezuelanos. Na realidade, a gente percebe que eles estão fugindo, de uma certa forma, do seu país.”
Assim como o empresário Juliano Torquato, o jornalista Márcio Coelho confirma que a cidade venezuelana de Santa Elena de Uairén está bem abastecida de mercadorias, porque muitos comerciantes vêm de lá para fazer compras em Pacaraima, de modo a reforçar os seus estoques.
A mesma impressão tem a servidora federal Renata Janaína, funcionária do Instituto Chico Mendes. Ela destaca que os venezuelanos descrevem Santa Elena de Uairén como um “verdadeiro oásis” diante da escassez de mercadorias e produtos em seu país. No Brasil, diz Renata Janaína, eles chegam sempre em grandes comboios, mas não costumam se demorar no país, pois precisam retornar logo à Venezuela:
“Eles compram e retornam. Geralmente, os venezuelanos chegam à noite, passam as madrugadas junto às portas dos comércios e, assim que o dia amanhece e os comerciantes abrem as portas, eles entram nas lojas, fazem suas compras e voltam logo para o seu país.”
Ainda de acordo com Renata Janaína, há muitos venezuelanos já trabalhando no Brasil, porém na informalidade. A servidora conta que muitos procuram se legalizar, mas boa parte está atuando de modo informal.
Pacaraima é um município localizado no nordeste do Estado de Roraima, na fronteira com a Venezuela. É conhecido como “Polo Norte de Roraima” por registrar baixas temperaturas em plena Região Norte do Brasil. Sua população, segundo os dados mais recentes do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de 2014, é de 11.667 habitantes.