No domingo, ao receber as unidades, Kitty Chiller, chefe da delegação australiana, classificou as habitações de "inabitáveis". Segundo ela, as acomodações apresentavam sérios problemas de vazamentos, bueiros entupidos, instalações elétricas inacabadas, pintura mal feita, sujeira no chão, entre outros problemas. A delegação australiana tem 410 atletas e 300 membros técnicos e foi alojada provisoriamente em hotéis próximos à Vila Olímpica, na região. Ao entregar as instalações, o próprio Carlos Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) reconheceu falhas na unidade, prometeu reparos, mas lembrou que esses problemas vêm sendo registrados por todos os países que sediaram Jogos Olímpicos.
O prefeito Eduardo Paes também reconheceu os defeitos e disse que tudo seria consertado. Ao melhor estilo carioca, tentou confortar a delegação australiana, afirmando que, para que se sentissem em casa, a Prefeitura iria disponibilizar um canguru em frente ao prédio da delegação. O tiro, porém, saiu pela culatra, e a declaração do prefeito foi bastante ironizada nas redes sociais. Os australianos não tiveram tanto humor. Após agradecer a lembrança, afirmaram que o que eles precisavam era de bombeiros hidráulicos e não de canguru. À tarde, o prefeito se retratou.
No âmbito do governo federal, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, lembrou que a responsabilidade das obras é do Comitê Olímpico Internacional (COI) e que o governo brasileiro não tem nada a ver com isso. Padrilha reconheceu, no entanto, que, se houve falhas, elas devem ser corrigidas de pronto, e considerou o problema pontual.
A paz foi selada nesta segunda-feira, 25, depois que os organizadores e a Prefeitura despacharam para a Vila Olímpica um exército de mais de 500 profissionais, entre bombeiros, eletricistas, pedreiros, marceneiros, ajudantes de obras, entre outros. Com jornada diária de 12 horas de trabalho, a expectativa de empreiteiras como a Qualieng, uma das operadoras das obras emergenciais, é que tudo esteja pronto na próxima sexta-feira ou, no mais tardar, no início da semana que vem, antes do início dos jogos no dia 5 de agosto.
A repercussão das reclamações na imprensa brasileira e na internacional levaram o comitê a anunciar a destituição de Mario Cilenti, do cargo de síndico da Vila Olímpica, "por ter trabalhado de forma incorreta e ter causado danos à imagem dos jogos". Até o momento não foi indicado nenhum nome para substituí-lo. Quem permanece no cargo de prefeita da Vila Olímpica é a ex-jogadora da seleção de basquete feminino Janeth Arcain, que tem a função de recepcionar atletas e delegação.
Com toda essa mobilização, à tarde, o discurso da delegação australiana já era outro. A chefe da delegação reconheceu que três andares já tinham sido reparados até às 15h e que mais três deveriam estar concluídos até o fim da noite.
"Foi um fantástico progresso hoje. Os trabalhos feitos foram muito bons. Estamos muito satisfeitos com isso", disse Kitty, admitindo, porém, que o comitê australiano teve que fazer muitas despesas extras com a realocação de atletas e comissão.
As queixas, contudo, não se restringiram aos australianos. Os italianos também encontraram os mesmos problemas em suas instalações, mas adotaram outra tática: ao invés de reclamarem, contrataram do próprio bolso profissionais para fazer os reparos. O mesmo procedimento foi adotado por parte da delegação brasileira, da holandesa e da americana. Os suecos, mais fleugmáticos, não disseram nada, mas várias testemunhas reportaram que atletas e comitiva trouxeram vários carrinhos de mão com produtos de limpeza para suas unidades.
A delegação argentina também reclamou e muito das condições das habitações. Atletas e comissão técnica consideram que dois dos três pavimentos em que estão alojados são simplesmente inabitáveis. A comitiva argentina, composta de 237 pessoas, é a maior desde a Olimpíada de Londres em 1948. Já a delegação angolana deu por falta de TVs nos cômodos, considerou o padrão das instalações regulares, mas abaixo do encontrado nas Olimpíadas de Londres (2012) e de Pequim (2008).
A imprensa brasileira tem publicado diversos relatos de furto de equipamentos e material na Vila Olímpica. Prefeitura e Comitê não assumem a responsabilidade de quem deveria vigiar o que durante as etapas e conclusão das obras.
A construção da Vila Olímpica teve a participação de duas grandes empresas brasileiras, a construtora Carvalho Hosken e a Odebrecht Realizações Imobiliárias, em um contrato pouco superior a R$ 1 bilhão, assinado com a Prefeitura do Rio. O projeto previa a construção de uma vila olímpica com mais de um milhão de metros quadrados na antiga área do Autódromo do Rio, em Jacarepaguá,que seria ocupada por cerca de 35 prédios com quase 3.500 apartamentos que abrigarão 17.950 atletas e membros das delegações dos países que vêm para a Rio 2016. Esses imóveis começaram a ser vendidos e os primeiros moradores devem receber as chaves já no ano que vem.
A Sputnik Brasil procurou obter informações sobre problemas nas obras com a Carvalho Hosken, mas não obteve retorno até o fechamento da edição. A Odebrecht Realizações Imobiliárias sugeriu que fosse procurada a assessoria da Rio 2016. Apesar de ligações feitas ao longo de todo o dia, não foi possível contatar ninguém da Qualieng. Já a assessoria da prefeita da Vila Olímpica, Janeth Arcain, também não retornou ao pedido de entrevista.