O ministro das Relações Exteriores, José Serra, esteve na semana passada no Uruguai, pressionando o país a não efetivar a troca, prevista pelo estatuto do bloco a cada seis meses. O Uruguai, por sua vez, mesmo mantendo críticas ao diálogo entre o governo do presidente Nicolás Maduro e a oposição, já prometeu que pretende entregar o cargo.
A professora da Escola Superior de Propaganda e Marketing em São Paulo (ESPM-SP), especializada em Américas, Denilde Holzhacker, mesmo reconhecendo as pressões, acredita que a transferência vai ocorrer, porque a inovação da Cláusula Democrática teria que ser pedida antes para suspender os direitos da Venezuela.
Segundo Denilde, o que os outros países podem fazer e que o governo brasileirou deixou transparecer é que pode boicotar a presidência venezuelana. As crises dentro do bloco e as tensões entre Brasil, Argentina e Paraguai com a Venezuela talvez venham a aumentar a partir da próxima semana, principalmente quanto à pressão sobre o governo venezuelano em relação ao tratamento aos grupos internos.
“A tendência dentro dos países da América do Sul é de manter o país no bloco e tentar fazer com que o governo do presidente Maduro aceite permitir que a oposição possa permanecer no Congresso, que não tenha uma política de repressão e de respeito aos direitos humanos. Mesmo com a pressão diplomática que tem sido feita no Mercosul manter o país dentro do bloco pode ser uma estratégia para pressionar o presidente Maduro a assumir novas posições.”
A professora da ESPM lembra que a invocação da Cláusula Democrática foi aplicada ao Paraguai em 2012, sob a presidência de Fernando Lugo, que acabou afastado em um processo sumário e curto de impeachment. O país teve então, durante um breve período, suspensos seus direitos políticos, mas não os econômicos. Denilde lembra que a aprovação da pena da Cláusula Democrática teria quer ser por unanimidade dos países membros e não por maioria.
A Cláusula Democrática teve como origem o Protocolo de Ushuaia, assinado em 24 de julho de 1998, na cidade do mesmo nome na Argentina, tendo sido assinada à época pelos quatro países membros (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) e os Estados associados (Bolívia e Chile). A Venezuela não integrava o bloco, o que só foi acontecer em 31 de julho de 2012. A cláusula determina a exclusão do país onde a ordem democrática for rompida. O Protocolo de Ushuaia aprovado em 1999 também foi assinado por Peru, Equador, Colômbia e Venezuela. Todas essas disposições estão previstas em 12 artigos do protocolo.