Aos 77 anos, o presidente eleito mais idoso da América do Sul, assume um mandato de cinco anos, com o desafio de promover grandes reformas sociais de um lado e, de outro, revitalizar a infraestrutura do país, que vem sendo sacudido há anos por casos de corrupção. O novo presidente prometeu ainda educação primária e secundária gratuitas, água potável para toda a população, formalização de empregos e maior proteção social.
A vitória de Kuczynski, que recebeu forte apoio de empresários e da indústria, marca mais um declínio dos governos progressistas na região, após a eleição de Maurício Macri na Argentina e do afastamento da presidente e Dilma Rousseff com a ascensão do governo interino de Michel Temer. A posse de Kuczynski, que substitui Ollanta Humala, foi prestigiada por vários mandatários do continente, como México, Argentina, Colômbia, Chile, Equador e Paraguai.
Para o professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF) Daniel Aarão Reis, a onda nacional-estatista que vem dominando América do Sul, e que se fez muito forte ao longo dos anos 90 e no início do novo século, está em declínio. As principais expressões, segundo ele, são a eleição do Macri, na Argentina, e também no Brasil, com o afastamento provisório da presidente Dilma em benefício de Temer, que tem um perfil bem diferente do que marcava a trajetória da Dilma e do Lula.
“A Venezuela, que era um dos baluartes dessa onda nacional-estatista, desde as últimas eleições, um recuo significativo. O presidente Maduro não consegue manter — em função da crise econômica do petróleo e de uma série de políticas equivocadamente assumidas — o controle e chegar aos pés da capacidade do Chávez.”
Reis afirma que a cultura política nacional-estatista é muito forte e enraizada na sociedade latino-americana e na da América do Sul em particular.
“Não creio que ela esteja numa crise terminal, mas numa bastante expressiva. A eleição peruana foi mais uma manifestação desta crise. O Ollanta significou uma aproximação do Peru com esses Estados andinos como Bolívia, Equador e Venezuela, que tinham uma valorização da intervenção do Estado para regular o mercado e inibir os interesses do grande capital.”
Na visão de Reis, observando-se a diferença mínima de Kuczysnki para Fujimori, o Peru está dividido e o novo presidente certamente vai enfrentar dificuldades para implementar o seu programa. Apesar disso, o especialista diz que o partido da Fujimori não é muito nítido em termos programáticos e ideológicos e pode se dividir.