Eliminam ervas matando pessoas: herbicida cancerígeno é aplicado na Argentina

© flickr.com / Kevin DooleySanta Cruz, Argentina
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Os habitantes de Monte Maíz, uma cidade do interior argentino com 8500 habitantes, sofrem cinco vezes mais abortos espontâneos e câncer do que a média da população mundial. Também têm 25% mais de doenças respiratórias. Nessa cidade, 40% das mortes ocorrem por tumores pulmonares.

Especialistas apontam para o uso de glifosato (um herbicida sistêmico que mata qualquer tipo de planta e que foi criado para matar ervas daninhas principalmente perenes).

"Em todos os lugares onde se semeia soja de forma intensiva se fumiga da mesma forma com glifosato, os estudos geram resultados alarmantes. Isso se repete no Uruguai, Paraguai, Brasil e grandes extensões da Argentina. Em toda esta região se aplica o glifosato, um herbicida associado ao cultivo da soja transgênica", disse no programa de rádio GPS Internacional Calor Vicente, um farmacêutico argentino e coordenador de GRAIN, uma organização internacional que trabalha para alcançar sistemas alimentares baseados na biodiversidade.

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Na América do Sul está autorizado o uso de herbicidas com glifosato, os mais utilizados a nível mundial. "Ano a ano vem se comprovando o seu nível de toxicidade. Em 2009, um pesquisador argentino, que foi presidente do CONICET, Andrés Carrasco, descobriu que essa substância em grandes quantidades produz toxicidades em embriões de anfíbios e, portanto, certamente em embriões humanos. [Carrasco] denunciou que existia a possibilidade de que isso gerasse malformações ou abortos. Isto é o que acontece em Monte Maíz e nas restantes povoações pulverizadas", afirmou Vicente no programa.

Há um ano e meio, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o glifosato, como uma substância "provavelmente cancerígena", disse o farmacêutico e assegurou que "isso apoia as evidências de câncer em Monte Maíz, onde há quase um triplo de casos sobre a média nacional argentina".

A Faculdade de Medicina da Universidade Nacional de Rosário, onde para receber os médicos devem realizar uma avaliação de saúde em cidades de menos de 10 mil habitantes, "obtém permanentemente resultados de aumento de casos de câncer em áreas expostas a pulverização. Em geral, os governos viram as costas a essas evidências. Mas os médicos e os investigadores continuam realizando denúncias. O caso mais recente é o do rio Paraná, onde foram encontradas grandes quantidades de glifosato", disse Vicente.

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No interior da zona urbana de Monte Maíz foram detectados 22 galpões e hangares com máquinas de pulverizar e altas concentrações de pesticidas. "Esse é o problema mais grave. Os mosquitos [as máquinas de fumigar] circulam pelas ruas da cidade e expõem os vizinhos a esses tóxicos. Exclusão das cidades seria o primeiro passo. Mas é necessário rever a questão da toxicidade destes agrotóxicos e começar a limitar e proibir o seu uso", acrescentou.

Em 30 de junho, a União Europeia deveria renovar a permissão para a utilização de glifosato. Mas houve mobilizações. "Se reuniram mais de 200 mil assinaturas para que isso não acontecesse. Por falta de consenso, a UE determinou que se renovasse por 18 meses e ordenou estudos em profundidade sobre a toxicidade, seus efeitos cancerígenos e embriológicos. É um exemplo concreto de um lugar onde se avançou na causa", acrescentou o ativista.

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