Inicialmente a Prefeitura tinha decretado feriados nos dias 5 (abertura dos jogos), 18 (devido à realização de diversas provas olímpicas) e 22 (data de encerramento da Olimpíada). O comércio está receoso porque Paes ainda considera decretar novos feriados ao longo desse período.
O presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio do Município do Rio de Janeiro (Sindilojas), Aldo Gonçalves, é um dos empresários do ramo preocupados. Segundo ele, o comércio deixa de vender com perda de faturamento, embora em alguns casos isso possa ser considerado prejuízo mesmo. Aldo diz que é o o caso de bares e restaurantes que não estavam prevendo esse novo feriado e já tinham comprado comida, artigos perecíveis, como frutas e legumes.
O presidente do Sindilojas afirma que, embora o decreto do prefeito permita a abertura das lojas, o problema é que a cidade fica vazia, principalmente em certas regiões da cidade, como o Centro e a Zona Norte. Pode haver um pouco mais de fluxo, principalmente nas regiões mais turísticas, como na Zona Sul e em alguns shoppings, mas os turistas não ficam na cidade como um todo.
“O consumo do turista é também muito pequeno em relação ao movimento do comércio. O turista, em geral, compra mais artigos esportivos ou então lembranças da cidade (camisetas, bonés), artigos temáticos ligados às Olimpíadas, e um pouquinho de moda praia, porque o Rio de Janeiro tem esse apelo”, diz Gonçalves.
Segundo o Sindilojas, mesmo dependendo de cada segmento e de cada setor, o comércio do município movimenta cerca de R$ 380 milhões por dia, conforme dados do próprio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que são atualizados pelo sindicato. Esse ano estão previstos dez feriados nacionais, três estaduais e dois municipais, que agora passaram a ser seis.
“Esse conjunto de feriados ao longo do ano, baseados em nossa estimativa, vai resultar em R$ 7 bilhões que o comércio vai deixar de vender. Isso prejudica não só o lojista e o comércio, como o próprio governo, que arrecada menos impostos, os comerciários, que na maioria são comissionados, e também um grande número de trabalhadores autônomos que vão ficar sem serviço, como os engraxates no Centro, chaveiros, ambulantes, pipoqueiros. É uma situação bastante difícil, especialmente este último feriado, que foi decretado sem aviso, numa demonstração de falta de planejamento. Isso desarruma não só as empresas, como o próprio comércio.”
Gonçalves lembra que esse ano todas as datas comemorativas tiveram vendas abaixo do esperado — no Dia das Mães, Páscoa e Dia dos Namorados.
“Agora estamos aguardando o Dia dos Pais, que pode ser que melhore um pouquinho e o Dia das Crianças.”
O presidente do Sindilojas estima uma queda de 6% nas vendas no primeiro semestre deste ano em relação a igual período do ano passado. A tendência é de melhora do quadro com as medidas que estão sendo anunciadas pelo governo, mas, conforme Gonçalves, esse vai ser um processo lento, e talvez só ocorra em meados de 2017, porque a inflação continua elevada, assim como o desemprego, na casa dos 11% da população.
O diretor da Conquist Educacional Consultoria, Roberto Madruga, acrescenta que o impacto também acontece no setor de serviços, como pequenas lojas, que dependem do funcionamento do comércio.
“Não bastassem todos os feriados que acontecem no Brasil, a decretação de mais esse por um lado favorece o deslocamento de autoridades, a organização da Olimpíada, mas por outro chega a ser irresponsável no que diz respeito a resultados. A crise brasileira tomou conta do setor varejista, de serviços, da indústria e especialmente do Rio de Janeiro, especificamente com a queda dos royalties do petróleo, de arrecadação e fuga de capitais. O estado ficou numa situação muito difícil.”
O consultor, especializado em varejo, diz que muitas empresas que dependiam da cadeia de exploração do petróleo quebraram, e isso afetou fortemente o comércio.
“Num momento difícil como esse, decretar feriados me parece algo fora da realidade dessas empresas que empregam milhões de pessoas em nosso estado. Temos que gerar empregos, riqueza, produção. Não adianta ter um grande número de negócios realizados próximos aos eventos que vão ser realizados na cidade enquanto outros setores vão ficar amargando prejuízos. É muito feriado num mês só sem haver nenhuma contrapartida para essas empresas.”
Madruga diz que a chegada de um grande número de turistas não compensa o que o comércio deixa de faturar em mais um dia de feriado.
“Estamos falando em termos da cidade do Rio de Janeiro, de uma população de quase 6,5 milhões de pessoas. Como um fluxo de 400 mil turistas em um período pequeno vai compensar esse consumo? O problema é que o município não preparou os empresários, não fez nenhum tipo de parceria para que os empresários opinassem sobre isso.”