Com milhares de cartazes e faixas denunciando o governo considerado ilegítimo de Temer, a articulação de interesses financeiros na derrubada de Dilma, os retrocessos nos direitos dos trabalhadores, a organização dos megaeventos e o apoio da grande mídia ao chamado “golpe parlamentar”, os manifestantes seguiram com palavras de ordem e muita música pelo trajeto da orla, que estava repleto de turistas estrangeiros, “para mostrar ao mundo o momento que o país atravessa”.
José Carlos de Araújo, advogado do movimento Advocaia em Ação, disse que era importante “marcar posição” enquanto a cidade está sob os holofotes do mundo.
“A sociedade deve se mobilizar mais e aproveitar as Olimpíadas, que traz várias delegações e autoridades estrangeiras, para denunciar o golpe de Estado parlamentar institucional que está depondo um governo legítimo no país”, disse o manifestante à Sputnik.
Quanto aos esquemas de segurança armados para o megaevento, muitos acreditam que a justificativa da ameaça terrorista possa estar sendo usada pelo governo para reprimir os movimentos sociais.
“Potencialmente existe ameaça terrorista. É mais contra os americanos, os europeus, não contra nós”, afirmou o manifestante Val Carvalho. “Mas como eles [os americanos e europeus] estão vindo para cá, esse risco existe”, disse ele, acrescentando que o grupo de supostos terroristas brasileiros recentemente presos pela polícia não passava de um grupo amador, “que de terrorista não tinha nada”.
Para ele, o alarde criado em torno do caso foi uma “palhaçada internacional” para justificar a repressão: “O governo da ditadura interina usa esta situação para reprimir as manifestações populares”, afirmou o manifestante.
Segundo Alessandro Biazzi, professor do CEFET-RJ, “o povo vai para a rua para deixar bem claro que o Brasil não é afetado por ISIS [Daesh, também conhecido como Estado Islâmico]“:
“Nem ISIS, nem atentado: terrorista é o Estado”, diz o slogan cantado pelos manifestantes, segundo citação do professor.
De acordo com Biazzi, “o golpe nas Olimpíadas é coerente com um modelo internacional de megaeventos que não é democrático nem includente”. Ele destacou particularmente a corresponsabilidade de atores internacionais como o Comitê Olímpico Internacional (COI) e a FIFA nesta questão, chamando atenção ainda para o projeto de “militarização da América Latina”.
“Quem realmente defende o espírito olímpico é quem vai para a rua protestar”, afirmou o manifestante.
Jaime Muniz Martins, ex-presidente da FAFERJ — Federação das Associações de Favelas do Rio de Janeiro —, disse por sua vez que a grande mídia manipula as informações sobre o golpe em curso no país, especialmente na base das favelas, onde os moradores vinham conseguindo mais acesso a educação, saúde e moradia digna nos últimos anos dos governos Lula e Dilma.
“Quem está perdendo seus direitos é o povo, principalmente os mais pobres nas favelas”, disse Martins, denunciando o papel da mídia na venda da “ideia de que o golpe é bom para o povo”.
O papel de forças estrangeiras na crise brasileira também foi lembrado por muitos manifestantes, que levaram cartazes e faixas para denunciar a privatização dos recursos do país e a suposta interferência dos EUA na situação.
“Eles nunca engoliram o BRICS”, disse o engenheiro Mozart Rangel, um dos participantes do ato desta sexta. “O golpe sequestra o Brasil na questão estratégica da energia, com o pré-sal começando a ser vendido para multinacionais estrangeiras, e na questão da defesa, com o programa espacial sendo entregue novamente para os EUA”, disse o manifestante, referindo-se à Base de Alcântara.
Convocada pelos movimentos Frente Povo Sem Medo, Frente Brasil Popular, Frente de Esquerda Socialista, Plenária dos Trabalhadores em Luta-RJ e CSP-Conlutas, a manifestação pacífica reuniu cerca de 30 mil pessoas, segundo os organizadores.