A declaração foi dada à imprensa pelo presidente da Liga dos Bombeiros após deixar uma reunião com o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Não foi a primeira vez que Jaime Marta Soares usou a palavra "terrorismo" para se referir aos incêndios em Portugal, no que parece uma tentativa desesperada de chamar a atenção das autoridades para a gravidade do problema.
"Mesmo que não seja organizada, é intencional, um crime", disse uma fonte ligada aos bombeiros procurada por telefone pela Sputnik para comentar a declaração do presidente da Liga dos Bombeiros. A fonte disse, sob condição de anonimato, que mesmo que ninguém acredite que se trate de uma ação orquestrada em todo o país, é importante chamar a atenção para a existência de incendiários e incentivar que a população os denuncie.
A Autoridade Nacional de Proteção Civil confirma que 98% dos casos de incêndios florestais como os que atingiram o Norte e o Centro de Portugal esta semana têm origem humana. Para Jaime Marta Soares, desses pelo menos 75% são, além de provocados pelo homem, causados de forma intencional, ou seja, uma ação criminosa. O incêndio que atingiu a cidade do Funchal, na Ilha da Madeira, no início da semana e que matou 5 pessoas tem como principal suspeito, segundo a polícia, um jovem de 24 anos, já preso e processado.
A ação de incendiários não é novidade nos incêndios florestais que todos os anos atingem várias regiões de Portugal em agosto, mas a grande quantidade de focos registrados este ano surpreendeu até quem está acostumado a atuar de maneira mais intensa nessa época do ano.
Milhares de bombeiros trabalham sem parar no combate às chamas em vários pontos do país. O número de homens e mulheres em serviço chegou a 5 mil durante os momentos de maior gravidade e eles sempre contam com a ajuda de voluntários das comunidades que correm riscos diante do avanço do fogo. Mais de 1300 veículos também são usados nos trabalhos.
O combate aos incêndios envolve, além dos bombeiros e dos voluntários, as autoridades de segurança. A polícia portuguesa está em constante atenção e conta com as denúncias da população para chegar aos incendiários. Vários já foram detidos apenas esta semana, a maioria jovens e, alguns deles, sob o efeito de álcool ou outras drogas.
Ajuda internacional
A grave situação obrigou o país a pedir ajuda aos parceiros da União Europeia para combater uma média de 300 focos de incêndio diários. Portugal acionou o Mecanismo Europeu de Proteção Civil na quarta-feira e, imediatamente, recebeu o socorro dos vizinhos espanhóis, que enviaram dois aviões e da Itália, que se comprometeu com o envio de um meio aéreo. Duas aeronaves marroquinas também auxiliam no trabalho de combate às chamas.
A Rússia enviará amanhã dois aviões Beriev após um pedido formal do primeiro-ministro António Costa à Moscou, acionando um acordo bilateral existente entre os países. A possibilidade já havia sido citada pelo chefe do governo português no início da semana e a solicitação foi feita após a ajuda da União Europeia ter sido considerada insuficiente.
As aeronaves russas têm capacidade para transportar 12 toneladas de água, quase o dobro dos aviões Canadair enviados pela Espanha. Os Beriev BE200 são anfíbios, podem pousar tanto na água quanto em terra, e já foram utilizados em combate à incêndios em Portugal há 10 anos.
Um porta-voz da União Europeia, questionado pelo jornal Diário de Notícias sobre a insuficiência da ajuda enviada, justificou dizendo que outros Estados-membros também estão enfrentando graves incêndios florestais. "Há um número limitado de aviões e equipes disponíveis em toda a Europa", disse a fonte.