Nesta quarta-feira, falando a correligionários em São Paulo, Dilma afirmou não ter renunciado por existirem hoje espaços democráticos no país. Segundo ela, "eles (oposição) não me obrigaram a me suicidar como obrigaram o Getúlio, nem me fizeram pegar um avião para o Uruguai como fizeram com o Jango", disse, repetindo promessas recentes: a de continuar lutando até o fim pela construção da democracia no Brasil.
Para o senador gaúcho, no entanto, essa é uma comparação completamente imprópria, incabível e inadequada, pois as situações são muito diferentes.
"Estamos tendo um processo constitucional, regular sob o ponto de vista legal com amparo na Constituição e com participação da Suprema Corte, que tornou o Senado um grande tribunal, e onde os senadores são os julgadores, representantes do povo numa acusação de inabilitação da presidente por infrações fiscais e de ponto de vista político."
Na visão de Martins, sob o ponto de vista jurídico Dilma cometeu duas infrações graves: contra a Lei da Responsabilidade Fiscal (LRF) e contra a lei orçamentária.
"Se outros cometeram igual e não foram punidos não é motivo para se invocar alguém. Não é porque se matou uma pessoa e não foi punida que todos os assassinos devem ter o mesmo reconhecimento. (Ela) cometeu infrações de ordem política porque levou o país ao caos, foi conivente, omissa com relação a nossa maior empresa, a Petrobras, que foi à ruína, à Eletrobras, aos fundos de pensão, aos superfaturamentos de várias usinas, ao desprestígio internacional do Brasil. Alguém que perdeu a popularidade, o apoio parlamentar e o reconhecimento de seu próprio partido. Perdeu as condições para continuar sendo presidente da República."
O senador gaúcho lembra que em 1954 a história era outra. Getúlio Vargas vinha sendo atacado pelas classes patronais, pelas elites e viu frustrado seu projeto político-econômico, também na alça de mira dos militares, que lhe haviam dado um prazo para afastamento. Segundo o parlamentar, diante da tamanha frustração e vendo que não tinha mais forças para encarar a nova realidade como presidente da República, preferiu dar cabo a sua própria vida.
A mesma comparação Martins faz em relação a Jango, em 1964, com o engajamento do presidente em políticas polêmicas, como a reforma agrária, que causava tanta antipatia, a reforma trabalhista, entre tantas outras rejeitadas pelas classes poderosas.
"No momento em que se viu cercado pelos tanques do Exército, em vez de enfrentar uma luta fratricida, preferiu sair do Brasil. Fugido ou não ele evitou o derramamento de sangue. Nada disso tem de comparativo com a situação de Dilma. A presidente está sendo defendida em um processo regular, com ouvida de testemunhas, dentro de uma comissão especial dos representantes dos Estados, está pacificamente residindo no Palácio da Alvorada, tudo muito transparente e dentro de uma base absoluta. Não há nenhum comparativo com aquele clima adverso de animosidade que enfrentaram tanto Getúlio quanto Jango."