"Condenaram uma inocente e consumaram um golpe parlamentar. Com a aprovação do meu afastamento definitivo, políticos que buscam desesperadamente, escapar do braço da Justiça tomarão o poder unidos aos derrotados na últimas quatro eleições. Não ascendem ao governo pelo voto direto como eu e Lula fizemos em 2002, 2006, 2010 e 2014. Se apropriam do poder por meio de um golpe de estado. É o segundo golpe de estado que enfrento na vida. O primeiro, o golpe militar, apoiado na truculência das armas, da repressão e da tortura. O segundo, o golpe parlamentar desfechado hoje, por meio de uma farsa jurídica me derruba do cargo pelo qual fui eleita pelo povo."
Dilma destacou que o golpe não foi somente contra ela, ou o Partido dos Trabalhadores e os aliados, mas que vai atingir a toda nação, os movimentos sociais e os que lutam por direitos trabalhistas.
"O golpe não foi cometido apenas contra mim, contra o meu partido e os partidos aliados que me apoiam hoje. Isso foi apenas o começo. O golpe vai atingir indistintamente qualquer organização política progressista e democrática. O golpe é contra os movimentos sociais e sindicais e contra os que lutam por direitos em todas as suas acepções, direito ao trabalho e a proteção de leis trabalhistas. Direito a aposentadoria justa, a moradia e a terra. Direito a educação, a saúde e a cultura. Direito aos jovens de protagonizar a sua própria história. Direito dos negros, indígenas, da população LGBT, das mulheres. Direito de se manifestar sem ser reprimido. O golpe é contra o povo e contra a nação. O golpe é misógino, é homofóbico, é racista, é a imposição da cultura da intolerância, do preconceito e da violência."
A agora ex-presidenta fez questão de garantir que quem pensa que a venceu está engando, e que vai fazer forte oposição contra o governo de Michel Temer.
"Não desistam da luta. Ouçam bem: eles pensam que nos venceram, mas estão enganados. Sei que nós todos vamos lutar. Haverá contra eles a mais firme, incansável, enérgica e determinada oposição que um governo golpista pode sofrer."
Sem dizer adeus, Dilma Rousseff encerrou sua fala citando um trecho da obra do poeta russo Maiakovski e emocionada afirmou que voltará para dar continuidade rumo a um Brasil em que o povo é soberano.
"Não direi Adeus a vocês. Tenho certeza de que posso dizer até daqui há pouco. Eu, a partir de agora, lutarei, incansavelmente para continuar a construir um Brasil melhor. Eu tenho certeza que outras e outros assumirão no futuro um papel que está baseado na eleição direta dos governantes pelo povo. Encerro compartilhando com vocês um belíssimo alento do poeta russo Maiakovski: Não estamos alegres, é certo, mas também por que razão haveríamos de ficar tristes? O mar da história é agitado, as ameaças e as guerras, haveremos de atravessá-las, Rompê-las ao meio, Cortando-as como uma quilha corta."
Dilma se despediu mandando um carinhoso abraço a todo povo brasileiro, que segundo a ex-presidente compartilha com ela a crença na democracia e o sonho da justiça em todas as suas dimensões.