Sem presidência definida, diversas secretarias e órgãos do Mercosul que periodicamente atualizam as tabelas de insumos e matérias-primas transacionadas pelos países do bloco estão sem poder autorizar a atualização de alíquotas da Tarifa Externa Comum (TEC), criada justamente para incentivar a produção local e proteger as indústrias da concorrência predatória externa. A alíquota de diversos insumos que era de 2% voltou a ser cobrada pela tarifa cheia de até 16%. Com isso, diversos insumos utilizados na indústria têxtil, de confecção, indústria automobilística e mesmo na construção civil acabam chegando com preços mais elevados ao Brasil.
O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, confirma a existência dessas dificuldades em virtude das recentes mudanças políticas e econômicas ocorridas em vários países do bloco, como na Argentina e no Brasil, onde assumiu um novo governo. O especialista cita o caso do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços e as operações da Camex que passaram para o Ministério das Relações Exteriores.
"A última reunião que ocorreu para tratar dos ex-tarifários, que reduzem (as alíquotas) de 14%, 16% para 2%, foi no dia 20 de julho, e as reuniões são mensais. Isso é uma coincidência com a decisão dos quatro países do Mercosul em relação à Venezuela."
Na avaliação de Castro, essa indefinição afeta a indústria, especialmente agora em um momento de redução de investimentos no Brasil. São atrasos e dificuldades que decorrem de ações que seriam positivas tanto para o Brasil quanto para a Argentina, países que buscam atrair capital estrangeiro não só para solucionar seus problemas internos, como para mostrar ao mundo que eles estão respirando outra vez.
"A gente espera que (esse quadro) seja breve. Difícil é dizer o que seja breve. Estamos em um período de transição com problemas", diz Castro, lembrando que no próximo dia 20 será comemorado o Dia da Exportação na Argentina, e empresários brasileiros estarão no evento ao lado de empresas paraguaias e uruguaias.
O presidente da AEB adverte que, se nada for feito no Mercosul, corre-se o risco de implodir o bloco.
"Para o Brasil, seria a última coisa que queríamos. Afinal de contas, este é o bloco que compra produtos manufaturados do Brasil. Acho que para a Argentina também não há interesse em implodir esse bloco. Pelo contrário: há interesse em fortalecer. Precisamos fazer alguma coisa, sob o risco de ficarmos ainda mais isolados em termos de comércio internacional."