Os funcionários que aderiram ao PDV vão receber um abono equivalente a 40% do salário nominal proporcional ao tempo na empresa, seis meses de plano de saúde e odontológico e apoio em programas de palestras e workshops de qualificação. Além da sede em São José dos Campos (SP), a empresa tem fábricas em Taubaté, Sorocaba, Botucatu e Gavião Peixoto, todas em São Paulo.
A Embraer anunciou também que vai conceder férias coletivas a partir de outubro para o pessoal das fábricas instaladas no Brasil. A medida é justificada pela empresa pela necessidade de adequar a produção à desaceleração da demanda. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, as férias coletivas englobam funcionários dos setores de aviação executiva e comercial. Na executiva, o período vai de 24 de outubro a 22 de novembro, enquanto na comercial, o período será de 7 de novembro a 6 de dezembro.
No último trimestre, a Embraer contabiliza prejuízo de R$ 337,3 milhões, após um resultado positivo de R$ 399,6 milhões obtidos em igual período do ano passado. Com o corte nas estimativas de entrega de aviões comerciais, a previsão de receitas líquidas neste ano baixou para algo em torno de US$ 1,7 bilhão, ante previsão anterior de quase US$ 1,9 bilhão.
Para o vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Herbert Claros, o total de pessoas que aderiu ao PDV reflete a gravidade da situação do emprego no país.
"São 1.470 famílias no mês de outubro desempregadas, com benefícios que vão receber, mas que sabemos que não substituem o fundamental, que é o emprego do trabalhador. São US$ 200 milhões que ela (Embraer) quer economizar. Somos contra exatamente por isso. Esse valor que ela quer economizar é o mesmo que ela provisionou para pagar um caso de corrupção em que ela está sendo acusada (a venda de aviões SuperTucanos à República Dominicana). Como uma entidade que defende os trabalhadores, não podemos ser favoráveis que a empresa jogue nas costas dos trabalhadores um problema administrativo dela."
Claros diz que a expectativa dos trabalhadores é de mudança neste cenário, mas admite que o cenário à frente é de muitas dificuldades.
"Estamos muito preocupados porque o governo está usando esse discurso de crise e situação de emprego para fazer reforma trabalhista e previdenciária. Somos contrários a esse discurso que precisa flexibilizar e gerar empregos. A situação da economia do país foi causada pelo próprio governo e pelas empresas que sugaram todo o patrimônio público nos últimos períodos, exploraram os trabalhadores, sustentaram sua matrizes e agora têm outras prioridades", diz o sindicalista, lembrando que os metalúrgicos do Estado de São Paulo estão se articulando com os de outros estados para convocar uma greve geral da categoria no próximo dia 29.
A situação da Embraer é um dos muitos casos que reflete a crise que a indústria brasileira enfrenta desde o início do ano, na construção civil, nas montadoras de veículos e em praticamente todos os demais setores.
Levantamento realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) revela que a indústria paulista fechou 11 mil postos de trabalho só em agosto, um recuo de 0,4% em relação a julho. A federação prevê que de janeiro até dezembro serão fechadas 165 mil vagas no estado, que se somarão as 235 mil fechadas no ano passado.
Conforme a pesquisa, dos 22 setores industriais 16 (73%) registraram queda do nível de emprego, com destaque para produtos de metal, produtos alimentícios e produtos de borracha e de material plástico. Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), a Fiesp projeta queda de 3% neste ano e alta de 0,9% para 2017.