Conforme a pesquisa, o partido PSOL é o que possui o maior número de transexuais que vão disputar as eleições municipais, são 15 concorrentes no Brasil. Também é através do partido que pela primeira vez mulheres trans vão concorrer à Prefeitura: Samara Braga, de 33 anos, que concorre como Prefeitura de Alagoinhas, na Bahia, e Thífany Félix, de 46 anos, que disputa a Prefeitura de Caraguatatuba, em São Paulo.
A maioria das candidaturas é feminina. Há apenas dois candidatos trans homens, o ator Thammy Miranda (PP) e o servidor público municipal, Régis Vascon (PcdoB)
Em entrevista exclusiva para a Sputnik, Thífany Félix, que já concorreu como deputada estadual pelo PSB, e agora disputa como Prefeita de Caraguatatuba, em São Paulo, pelo PSOL, atribui o aumento de candidatas transexuais nas eleições municipais deste ano, a bandeira levantada por uma das fundadoras do PSOL, Luciana Genro, durante sua campanha nas eleições presidenciais de 2014, onde destacou o problema da transfobia no país e a falta de direitos sociais para a comunidade trans. "Quando ela foi candidata à presidente da República, destacou os problemas das travestis e transexuais. Ela colocou em pauta a transfobia, que quase ninguém na população sabia da transfobia, todos falavam homofobia, e hoje já aprenderam. Acho que isso contribuiu para que dobrasse o interesse, porque nos fóruns de travestis, transexuais e homens trans nós conversamos muito e resolvemos entre nós reforçar essa pauta. Nós conversamos que deveríamos sim entrar no movimento político, mostrar que existimos, e a única forma de mostrar a nossa existência é invadir o espaço político, independente de partidos."
Sobre a responsabilidade de ser uma das duas representantes trans junto com a candidata Samara Braga, a disputar uma Prefeitura no país, Thífany Félix afirmou que o mais importante agora é dar visibilidade à comunidade transexual independente de vitória.
"Eu acho que é uma responsabilidade muito grande que está em nossas costas. O ganhar ou perder para nós, o momento para nós está focado mais na visibilidade e dar voz a uma população que está esquecida. Não somente a população LGBT, todos os segmentos. Mesmo que não sejamos eleitas, por sermos as primeiras. Eu acredito que nós estamos contribuindo com a sociedade para mostrar que não somente os homens e mulheres héteros cis normativos (que seriam os homens e mulheres que se encaixam nos padrões determinados pela sociedade) poderão exercer cargos, que uma parte muito grande da sociedade, acha que nós, travestis e transexuais não podemos."
Entre as armas contra a discriminação e o preconceito, Thífany, que é cabeleireira de profissão, promete como candidatada o incentivo à educação e a saúde. "Minha principal proposta dentro de Caraguatatuba, é a educação. Eu acho que a educação é base de qualquer profissão. Se você tem uma base perfeita você consegue formar homens e mulheres dignos, de respeito, trabalhadores, competentes e capacitados. Dentro do recorte de travestis e transexuais, algo que aqui não existe é o acompanhamento da hormonioterapia (tratamento com hormônios), como um dos projetos do meu plano de governo, que é dar essa assistência a travestis, transexuais e homens trans."
Também em entrevista exclusiva para a Sputnik, a professora de Filosofia, formada pela USP, Luiza Coopieters, mulher transexual e lésbica, que disputa em 2 de outubro a uma vaga na Câmara de Vereadores, de São Paulo, também pelo PSOL, acredita que o aumento de candidatas trans nas eleições municipais de 2016 se deve a expansão da informação e do debate sobre a questão dos direitos dos transexuais.
"Eu acho que isso é fruto de um processo político. É uma luta que vem de décadas, mas os últimos anos até por algumas pessoas estarem aparecendo, o debate está sendo colocado, se discutindo, isso se torna um fenômeno, um evento a existência de pessoas transexuais. A sociedade passa a nos olhar, e passa a ter que discutir de uma forma desestigmatizada. Nos colocamos como pessoas de direitos, direitos a afeto, família, trabalho, viver na sociedade. Eu brinco, eu falo que é uma segunda onda que vem de pessoas politizadas, as exceções que tiveram acesso a um ensino superior, a uma formação e passam a ocupar e disputar lugares de poder também."
Em relação a predominância de candidatas trans femininas em relação a trans masculinos, Luiza Coopieters acha que isso se dá a diversos fatores, principalmente pela necessidade da comunidade trans ter uma representatividade significativa na política do país. "Você tem desde o fato da sociedade ser misógena, machista, e portanto, as mulheres transexuais serem marginalizadas, as que estão na prostituição, por exemplo, como também no caso dos homens trans, uma invisibilidade da própria condição de existência de homem trans. Tem uma questão política também deles estarem se organizando agora. E também depende de uma sociedade, não é só das pessoas ou da condição trans, mas de uma sociedade que não permite que a gente exista. Não é só contra a invisibilidade, mas é pela reformulação da prática política e da representatividade."
Luiza ressalta ainda que até mesmo para participar do pleito eleitoral o candidato trans passa por preconceito e constrangimentos por parte das normas do Tribunal Superior Eleitoral até a campanha nas ruas. "Na inscrição, eu estou inscrita como homem, isso para mim é muito vergonhoso. Você entra no site, está lá o meu nome de registro. Tem dificuldades em várias esferas. Na rua, por causa da minha voz, imagina o quanto eu ouço obrigado moço. Tem um enfrentamento cotidiano."
Como propostas de governo a atenção para a saúde é uma das prioridades da professora em prol da comunidade transexual.
"A primeira coisa que deveria se fazer era um censo da população transexual, para podermos elaborar as políticas públicas com qualidade. Se tem que formar agentes de saúde para atender a população, a partir de uma formação que não seja cis hétero normativo. Ensinar ao médico e ao atendente, que existe pessoas transexuais, que não muda nada, que tenha um atendimento médico adequado, com tratamento de hormônios, acesso na esfera municipal a cirurgias."
Entre os estados brasileiros, São Paulo é o que concentra a maior parte das candidaturas transexuais na eleição de 2016, são 24 nomes, dos 84 pesquisados no país pela Antra. Em segundo lugar está a Bahia, com oito candidatas, seguido por Minas Gerais, com seis candidatas. Em quarto lugar, o Rio Grande do Sul e Paraná, com cinco candidatas cada. Já os estados da Paraíba, Pará e Ceará tem quatro candidaturas cada. No Rio de Janeiro e em Mato Grosso do Sul, são três candidatas trans. Segundo a Antra, só não há registros de candidaturas trans no Espírito Santo e no Mato Grosso.