Com os protestos de outros deputados, que detectaram a manobra, a sessão foi suspensa, e o tema retirado de pauta. No entanto, a ação não impediu a intensa repercussão do fato. Contribuiu para isso a declaração do ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, de que, como a prática de Caixa 2 para doações de campanha não é vista legalmente como crime, aqueles que se beneficiaram de tal expediente devem aguardar a evolução dos fatos.
Para o cientista político e historiador Antônio Marcelo Jackson, professor da Universidade Federal de Ouro Preto, em Minas Gerais, urge impor ética e correção moral na vida política brasileira:
“Em várias entrevistas que tenho dado à Sputnik, tenho ressaltado o medo que a classe política vem nos impondo com o seu comportamento. Quando chegamos ao ponto em que um ministro de Estado, como Geddel Vieira Lima, muito próximo ao Presidente Michel Temer, manifesta-se publicamente desta maneira, os motivos para preocupações aumentam. Não importa que o Presidente Michel Temer tenha alegado que Geddel falou em nome próprio, expressando opinião ‘personalíssima’. O que importa neste caso é o fato de um ministro de Estado ter manifestado tal opinião, ao invés de condenar, veementemente, a prática de Caixa 2. A meu ver, o Presidente Temer deveria ter repreendido o seu ministro por tais declarações, mas infelizmente não o fez.”
“Não há na legislação brasileira, especialmente nos Códigos Penal e de Processo Penal, qualquer menção ao fato de que o uso de Caixa 2 seja crime. A questão é tratada como mera prestação de contas no âmbito da Justiça Eleitoral: o candidato declara quanto recebeu e de quem recebeu recursos para a sua campanha. No máximo, o uso de informações inverídicas ou sem amparo legal fará com que este candidato responda a processo pelo crime de falsidade ideológica, punido com pena de até cinco anos de reclusão, pena que não admite abrandamento e menos ainda conversão para prestação de serviços alternativos.”
“Nós, com o apoio do Ministério Público Federal, estamos debatendo na Câmara diversas propostas para agravar as penas de quem comete crime de corrupção, entre eles o uso de Caixa 2. Estamos debatendo possíveis emendas ao Código Penal, o agravamento de penas e, no âmbito do Código de Processo Penal, a redução de possibilidades para que, mediante recursos, os culpados possam escapar das punições.”