A Sputnik Brasil ouviu com exclusividade Juliano Medeiros, integrante da executiva nacional do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), para quem, em um primeiro momento, o PSOL, partidos de esquerda e movimentos sociais organizados na Frente Povo sem Medo e na Frente Brasil Popular privilegiaram a denúncia do golpe, do processo de impeachment e o caráter conservador do projeto de Temer. Segundo ele, começa agora uma segunda fase da luta contra o governo que é a de preparar a resistência popular contra as medidas.
"O Temer virou presidente porque precisava fazer determinados ajustes dentro de um determinado tempo e isso não era possível nas condições de instabilidade política. Vai se iniciar agora uma sequência de medidas muito duras. A reforma da Previdência é uma e que tem as melhores condições de construir uma ampla unidade dos movimentos sindical e social contra o governo. Tem uma pressão do empresariado para uma reforma trabalhista, e essa é uma das razões pelas quais o golpe foi efetivado."
Medeiros diz que nesta segunda fase a estratégia é lutar contra medidas concretas.
"Não é mais denúncia política do golpe, dizer que o governo é ilegítimo. Vamos precisar desatar uma grande mobilização nacional e buscar um nível grande de unidade, deixar as diferenças de táticas para construir uma frente única contra a retirada de direitos."
Medeiros dá como exemplo da reforma do ensino médio. O PSOL participa da União Nacional dos Estudantes (UNE) em oposição ao PCdoB, que é majoritário na entidade. O Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) não participa mais da UNE e criou uma entidade própria.
"Nesse ponto específico, vai ter unidade de todo o mundo, do PCdoB ao PSTU. Não há como pensar uma articulação de resistência que não seja uma ampla unidade de todos contra essa reforma do ensino médio que responde a interesses privados, de dinâmica de mercado."
O integrante da coordenação nacional do PSOL lembra que a oposição à proposta de reforma da Previdência une a CUT, a Conlutas, a Intersindical, e mesmo as centrais sindicais ligadas aos partidos que são da base do governo Temer, como a Força Sindical, enfrenta hoje pressões em sua base.
Medeiros prevê que os movimentos de rua tendem a mudar sua natureza, e vão deixar de ser manifestações espontâneas da juventude e de setores mais desorganizados politicamente.
"Vai passar a ser uma dinâmica onde as entidades mais tradicionais terão uma certa predominância sobre a liderança política de resistência ao governo. Você pode ter manifestações que possam ser numericamente menores, mas mais efetivas. É um pouco cedo para dizer que os protestos vão diminuir com o passar do tempo."
O convite feito pelo presidente Michel Temer a empresários e investidores na última quarta-feira em Nova York, durante a assembleia da ONU, para que invistam no Brasil, também recebeu críticas de alguns setores no Brasil. Na ocasião, Temer deu como garantias a segurança jurídica oferecida hoje pelo país e o "momento de estabilidade política'.
Para o integrante da coordenação nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e da Via Campesina, Anderson Amaro, o governo "tenta convencer não somente a empresários mas a ele mesmo que há normalidade onde não há". Amaro diz que as manifestações dessa quinta-feira em várias capitais do país recebeu adesão também de vários setores privados, e a tendência é que esses movimentos cresçam na medida em que os trabalhadores percebam o que está e jogo.
"Temos um presidente que mente o tempo todo. Ele inicia a Assembleia mentindo (da ONU) e termina mentindo. Ele inicia mentindo sobre os refugiados no Brasil e termina mentindo sobre a normalidade política que não existe no Brasil. Ele mente para tentar garantir a continuidade de um governo que nasce ilegítimo e continuará ilegítimo por todo esse processo. Vice trata com vice. Barack Obama evitou falar com ele todo o momento."
Amaro diz que as manifestações não vão diminuir com o passar do tempo e prevê que acontecerão mais dois grandes movimentos antes da greve geral que, embora ainda não definida por movimentos e centrais sindicais, deve ocorrer no início de novembro.