Em entrevista exclusiva para a Sputnik, Paulo Aguiar disse que a ideia da ação teve como inspiração exemplos em outros estados brasileiros e de outros países, como a iniciativa feita pelo francês Rémi Gaillard, em 2012. "A ideia surgiu de um vídeo que nós vimos na internet, de alguém fazendo em algum país lá fora. Eu fui pesquisar e vi que também já fizeram aqui no Brasil, mas como uma forma de pegadinha. A nossa ideia de fazer aquilo ali foi para chamar atenção da cidade e do poder público para a necessidade de se ter vias mais calmas, com velocidades baixas."
De acordo com Paulo Aguiar, o trânsito em Manaus é como terra sem lei, sem punições para os motoristas que ultrapassam os limites de velocidade colocando em risco, principalmente os ciclistas. Vestido de radar, o ciclista, agiu como se estivesse fotografando os carros em alta velocidade que passavam na via.
"Manaus não tem fiscalização. Estamos há mais de um ano sem radares na cidade e sem nenhum outro tipo de medida que vise a redução da velocidade nas vias. A quantidade de acidentes que tem em Manaus é muito grande também. Procuramos fazer aquilo para chamar atenção para realmente essa necessidade, porque com vias mais calmas, nós podemos ter mais ciclistas."
O projeto Pedala Manaus existe desde 2010 com a ajuda de voluntários, e Paulo Aguiar explicou que ações de conscientização envolvendo ciclistas e motoristas são sempre realizadas na cidade, para incentivar o uso da bicicleta. "O Pedala Manaus é uma ONG sem fins lucrativos, formada por voluntários, onde promovemos a bicicleta como meio de transporte. Participamos muito da discussão de políticas públicas e essa ação também é uma forma de chamar a atenção para uma necessidade aqui de Manaus de ter vias mais calmas, para estimular mais pessoas a usarem a bicicleta e com isso ter menos carros nas ruas."
Ao se depararem com Paulo Aguiar vestido de radar no canteiro da rua e filmando os apressados, os motoristas lembravam de ter prudência e pisavam no freio.
"Foi sensacional. Vimos que quando as pessoas se sentiam fiscalizadas, monitoradas, elas colocavam o pé no freio. Nós percebemos que se houvesse uma fiscalização mais dura, uma punição, um controle maior da velocidade nessas ruas, com certeza seriam ruas mais humanizadas, com velocidades menores, menos acidentes."
Para o ciclista, o brasileiro só se conscientiza se pesar no bolso, com pagamento de multas, como acontece em outros estados do país. "Veja o exemplo de São Paulo, que conseguiu reduzir o número de acidentes e reduzir a velocidade nas marginais. Isso já é uma tendência mundial, e as pessoas em São Paulo cumprem, porque tem medo da multa."
Paulo Aguiar diz que o trabalho de conscientização da ONG também é feito através de palestras em empresas de ônibus para sensibilizar os motoristas, e que depois de se vestir de radar, o Pedala Manaus já pensa em uma nova ação na cidade para chamar atenção do poder público, que é um desafio para a ocupação do espaço viário. "Nós vamos comparar os espaços ocupados por ônibus, carros e bicicletas. Vamos fotografar, colocar um drone para filmar do alto e mostrar a espacialidade, porque às vezes as pessoas não percebem que o problema do trânsito é o excesso de carros. Com isso, também chamar atenção do poder público para investirem mais no transporte público de qualidade, com custo razoável, confortável, veloz e frequente."