O aumento dos embarques, contudo, na avaliação de especialistas no assunto, não depende apenas da convocação presidencial. Embora hoje superavitária — mais pela queda das importações do que propriamente pelo aumento do volume embarcado — a balança comercial brasileira enfrenta uma série de distorções que inviabilizam, no curto e médio prazo, maior venda de produtos brasileiros ao exterior.
Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), Roberto Segatto, diz que para o Brasil vender mais no exterior são necessárias diversas revisões estratégicas em termos de logística, infraestrutura, canais de financiamento, incentivos à indústria e investimento em tecnologia e pesquisa.
"Em primeiro lugar está a modernização do parque industrial. O Brasil tem hoje máquinas com idade média de 25 anos. Há setores industriais que praticamente não operam mais, como o setor têxtil, o calçadista, porque o equipamento é muito obsoleto e não consegue produzir um produto com preço, qualidade, perde a concorrência."
O presidente da Abracex, que também é conselheiro da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), aponta um outro motivo: a falta de financiamento para importação de máquinas. Segundo ele, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não está financiando a importação de máquinas.
"Essa importação deveria, como foi no passado, ter um incentivo que seria a redução dos impostos ou até a isenção. Em passado recente havia um programa chamado Befiex. A máquina era importada isenta de impostos e o empresário se comprometia a exportar um valor entre cinco e dez vezes mais que o valor do equipamento em um prazo de cinco anos. Eram programas que incentivavam a modernização do parque industrial e que colocavam a indústria em boa recuperação."
Segatto aponta ainda o mau estado de conservação de muitas rodovias, ferrovias e hidrovias. Segundo ele, o transporte no Brasil é caríssimo.
"No campo, por exemplo, nossa soja é a mais barata do mundo. Colocada no porto, contudo, ela está no mesmo patamar de custo dos outros grandes produtores mundiais. Isso fora a perda do produto que é carregado a granel em caminhões."
Para o presidente da Abracex, o ponto primordial, contudo, são os produtos manufaturados, que elevam o valor das exportações e melhoram o perfil da balança.
"Embora a balança esteja com superávit de R$ 32 bilhões, só estamos exportando produtos primários. A necessidade é a remodelação do parque industrial e que o BNDES esteja incentivando a indústria, ao invés de ficar financiando obras fora do Brasil."
Outro gargalo importante, segundo o empresário é a falta de tecnologia nacional.
"Você não pode comparar com a tecnologia que têm os Estados Unidos, a Alemanha, Itália a França, que é fortíssima em máquinas plásticas; a Alemanha em tudo; EUA e Itália em algumas. O Brasil tem alguma coisa de equipamento e de empresas estrangeiras que têm filial aqui, mas que não estão produzindo modelos de última geração."
A Abracex está finalizando um estudo com recomendações ao governo que será entregue ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio durante um evento, que será realizado dentro de 30, 40 dias, para discutir esses assuntos com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e com o titular do Desenvolvimento, Marcos Pereira.