A notícia e a divulgação do relatório do Fundo sobre o momento atual da economia brasileira suscitaram apreensões de parte dos movimentos de oposição ao governo Temer de que o país poderia estudar a possibilidade de pedir um novo empréstimo ao Fundo ou promover maior reaproximação do país ao órgão.
O professor de MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Mauro Rochlin garante que o motivo é outro: apenas uma visita formal de agenda, assim como farão ministros e presidentes de bancos centrais de outros países.
"O Brasil tem hoje reservas internacionais sobrando, na casa dos US$ 400 bilhões, ao contrário da Argentina, que poderia vir a precisar. A Argentina, há pouco tempo, conseguiu acertar um acordo com os fundos abutres, e a demanda pelos títulos argentinos foi muito maior do que a oferta, o que possibilitou a Argentina se capitalizar em termos de reservas, que hoje se aproximam dos US$ 60 bilhões, que é um número expressivo se você considerar as transações correntes da Argentina que são em muito menor volume do que as do Brasil."
Rochlin lembra que, no caso do presidente Juscelino Kubitschek, na década de 50, o Brasil estava muito endividado na época com bancos internacionais, suspendeu pagamentos a bancos e precisou recorrer ao FMI. Quando foi criado em 1944, no âmbito do acordo de Breton Woods, nos Estados Unidos, o banco tinha justamente essa finalidade: emprestar dinheiro para os países membros, quando sofressem desequilíbrio no balanço de pagamentos. Isso aconteceu com o Brasil nas décadas de 60 e 80 e na de 90.
A última vez que o Brasil recorreu a uma linha de empréstimo do Fundo foi em 2002, na gestão do então presidente Fernando Henrique Cardoso. A partir do primeiro mandato do presidente Lula e até hoje, o Brasil não precisou tomar mais crédito do FMI. Pelo contrário. Até se tornou credor, quando comprou US$ 10 bilhões em bônus em 2009, parte de uma operação mundial dos países membros para reforçar o caixa da entidade.
Rochlin lembra que, para liberar empréstimo a um país, o FMI estabelece condicionalidades que sempre impõem a adoção de políticas recessivas, que acabam por favorecer a exportação. Empresas de país em recessão têm que buscar mercado externo para conseguir sobreviver. Já as importações caem, reflexo do menor consumo interno. O objetivo é se obter um fluxo cambial favorável. Segundo o professor, o Brasil não tem esse problema. O desafio é fiscal.
Rochlin classifica como "asneira e desconhecimento factual" as afirmações de que o Brasil está abrindo mão de sua soberania conversando com o FMI.
"É um discurso completamente desconectado da realidade, é muito mais uma retórica para reforçar o discurso ‘Fora Temer’."