Rafael Herzberg, sócio da Interact Consultoria de Energia, é uma dessas vozes. O especialista alega que é interessante que o país comece a privatizar essas operações, porque o Estado brasileiro não conseguiu torná-las eficientes e competitivas com paridade global.
"Essa iniciativa vai em linha com a necessidade do Brasil se tornar mais competitivo. Se isso fizer parte de um processo de trazer competitividade para o Brasil — já que seria o setor privado que administraria e o setor público faria questão de criar um ambiente mais competitivo —, a venda tem esse lado virtuoso."
A Petrobras é hoje a petroleira mais endividada do mundo (algo em torno de US$ 125 bilhões) e acelera seu programa de desmobilização de ativos, principalmente depois que as cotações do barril de petróleo perderam 50% de seu valor nos últimos dois anos. Após média de US$ 100 o barril em 2014, as cotações hoje giram em torno dos US$ 50. O plano da empresa agora é levantar US$ 5,3 bilhões em vendas até dezembro e US$ 19,5 bilhões entre 2017 e 2018.
"Com relação à Petrobras, não existe mais opção de continuar no tamanho que pretendia se manter porque ela está sem condições econômico-financeiras para arcar com esse tamanho. A decisão foi reduzir os ativos e se concentrar nas atividades principais e, com isso, tornar a empresa mais robusta econômica e financeiramente."
O sócio da Interact diz que, para alguém que olha o lado empresarial, não existe outra alternativa.
"Fui e sou muito crítico quanto a muitas iniciativas do governo, porque são péssimos gestores da coisa pública, mas essa iniciativa está na direção certa. É a única que restou para criar uma situação que ganhe uma certa credibilidade, se a gente está pensando em tornar o Brasil passível de uma confiança maior do mundo."
Herzberg diz que a venda de participação na BR também vai solucionar a questão da disparidade de preços no mercado brasileiro de combustíveis e dar mais previsibilidade ao setor.
"Se a gente olhar o que acontece com os preços internacionais (de petróleo) e os preços no Brasil, os preços brasileiros não seguem a linha dos internacionais, o que dá margem para muitas intempestividades, e essas diferenças acabam assustando investidores de longo prazo, porque eles nunca sabem com certeza em que ambiente eles vão operar. Diminuir os ativos da empresa e se concentrar no core business é uma forma de facilitar essa entrada no mercado do Brasil com uma conotação competitiva."
A BR Distribuidora, fundada no final de 1971, é hoje a maior distribuidora de combustíveis no país. A empresa opera uma rede de 7.500 postos de serviços, tem mais de 10 mil grandes clientes entre indústrias, termelétricas, companhias de aviação, atua também na produção e comercialização de gás, além de ter forte atuação na preservação de meio ambiente e desenvolvimento de programas de segurança industrial. A BR foi também a primeira companhia a utilizar bombas eletrônicas no abastecimento e a primeira a comercializar álcool hidratado e gás natural como combustíveis automotivos.