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Jovens empunhando instrumentos musicais como armas em favela do Rio viralizam na web

© Divulgação Favelagrafia/ Anderson ValentimProjeto Favelagrafia
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Uma foto publicada pelo projeto Favelagrafia está dando o que falar. Após viralizar nas redes sociais, já registra quase 5 mil curtidas e ainda está sendo reproduzida por vários famosos nacionais e internacionais.

Tirada pelo Fotógrafo/Músico/Estudante de Design gráfico Anderson Valentin, do Morro do Borel na Tijuca, e que integra o Favelagrafia, a fotografia mostra cinco jovens músicos e amigos do fotógrafo, que aparecem com os rostos cobertos e segurando instrumentos musicais como se fossem armas, no Morro do Turano, no Rio Comprido, Zona Norte do Rio. Na legenda da imagem a frase "Alguns lutam com outras armas."

© Reprodução Instagram/Anderson ValentimA foto de Anderson Valentim viralizou na web no Brasil e no mundo
A foto de Anderson Valentim viralizou na web no Brasil e no mundo - Sputnik Brasil
A foto de Anderson Valentim viralizou na web no Brasil e no mundo

Em entrevista exclusiva à Sputnik, Anderson Valentim contou que o projeto Favelagrafia teve início no Rio em julho deste ano e é uma iniciativa da Prefeitura, através da Secretaria Municipal de Cultura, e patrocinado pelo Consórcio Linha 4 Sul do Metrô e da Agência de Publicidade NBS rio+rio.

Segundo Anderson Valentim, o projeto tem como objetivo retratar o cotidiano das favelas cariocas através do olhar de fotógrafos escolhidos em nove comunidades do Rio: Morro do Borel, Santa Marta, Morro da Mineira, Complexo do Alemão, Providência, Cantagalo, Babilônia, Rocinha e Morro dos Prazeres. "Este projeto é idealizado pela Agência de Publicidade NBS rio+rio e ela escolheu nove fotógrafos para retratar o dia a dia de cada um com um aparelho de celular. Essas fotos vão virar peças gráficas, um livro e uma exposição agora em novembro."

Sobre a repercussão de sua foto no Brasil e no mundo, com seus amigos, que integram um grupo de jazz do Morro do Turano, no Rio Comprido, na zona Norte do Rio, Anderson se diz surpreso pois a imagem na verdade foi a continuação de uma série de imagens que começou a partir de uma outra foto, que mostra um menino da comunidade do Borel segurando uma flauta e também com o rosto coberto.

© Anderson Valentim'Mensageiro sim senhor!" (Anderson Valentim)
'Mensageiro sim senhor! (Anderson Valentim) - Sputnik Brasil
'Mensageiro sim senhor!" (Anderson Valentim)

A ideia, segundo o fotógrafo, era retirar a imagem que tinha ficado da comunidade por conta de um confronto entre policiais e traficantes, que tinha acontecido na ocasião, mas sem a intenção de levantar bandeiras ou causar polêmica. Anderson Valentim conta que não esperava toda essa repercussão.

"Eu já tinha feito uma foto semelhante com um menino com capuz e uma flauta, só que ele não estava com o instrumento em punho e eu queria retratar isso. Eu senti que ele estava tímido com essa questão e acabei respeitando isso. Como eles são meus amigos de longa data — tocamos juntos há mais de dez anos — eu fiz mais ou menos a proposta. E tinha acontecido um fato interessante, pois tinha sido uma semana antes daquela guerra urbana que teve no Turano e aí fizemos a foto, mas foi uma coisa intimista, não teve a intenção explícita de falar sobre o assunto, até eu não pensei que ia gerar essa proporção, porque eu já tinha feito essa foto do menino e não pensei que ia alcançar esse tamanho todo que chegou. Fiquei muito surpreso."

© Reprodução Instragram/Anderson ValentimFotógrafo Anderson Valentim
Fotógrafo Anderson Valentim - Sputnik Brasil
Fotógrafo Anderson Valentim

O fotógrafo chama atenção para a importância de projetos como o Favelagrafia para acabar com os estereótipos de que não há cultura ou pessoas e ações que podem se destacar de uma forma positiva dentro de uma favela. "Nós carregamos um carimbo muito forte, o que está reverberando é apenas 10%. 90% de coisas boas no morro são feitas por uma turma que faz arte, de pessoas que estudam. No Morro do Borel tem uma menina que está estudando engenharia, talvez ela seja uma das únicas, algumas das minhas fotos eu estou sempre procurando retratar isso. Eu realmente quis chocar com essa questão sim para poder sair nos morros o que não é retratado. Eu quis trazer esse outro olhar de que também tem coisas legais no morro. A própria questão da música, quando se fala do morro, estamos rotulados com a questão do funk ou samba, e na realidade tem os moleques tocando jazz, e isso está lá já há muito tempo e não é retratado."

© Reprodução Favelagrafia/Elana PaulinoAlunos da escola de música Spanta Nenén retratados pela fotógrafa Elana Paulino, no Morro Santa Marta, em Botafogo, na Zona Sul carioca
Alunos da escola de música Spanta Nenén retratados pela fotógrafa Elana Paulino, no Morro Santa Marta, em Botafogo, na Zona Sul carioca - Sputnik Brasil
Alunos da escola de música Spanta Nenén retratados pela fotógrafa Elana Paulino, no Morro Santa Marta, em Botafogo, na Zona Sul carioca

Para Anderson Valetim o sucesso do Favelagrafia está na liberdade de trabalho dada aos fotógrafos escolhidos para o projeto, o que normalmente não acontece nas comunidades.

"Às vezes os projetos vêm com um formato muito quadrado e não dão certa liberdade. O sucesso desse projeto é isso, em nenhum momento eu tive problema com a minha criatividade. A fala é assim: quem mora no morro não está pedindo favor, é só um carinho, uma atenção, e eles deram essa liberdade. Você vê hoje uma agência de publicidade que está na correria, você pega um diretor de arte que vai no morro te ajudar. Isso tem um peso muito grande. Os nove fotógrafos irem lá na agência ter o olho no olho, perguntar o que eles acham, essa troca é muito importante. Talvez esse projeto seja uma das melhores coisas que está acontecendo no Rio de Janeiro devido a essa questão do respeito do olhar de cada fotógrafo."

Através de suas fotos, Anderson Valentim diz que espera que as pessoas passem também a ter um novo olhar sobre as pessoas que vivem nas favela e deem espaço também para a cultura que é produzida nessas comunidades. 'Espero que as pessoas tenham um novo olhar sobre as comunidades, que elas olhem a partir dessa foto com carinho. É interessante que algumas pessoas olham à primeira vista, veem o capuz e criam um conceito, só que embaixo já está o instrumento musical, então, é dar um segundo olhar, repensar, porque existem pessoas nas comunidades que precisam de oportunidades, que nossos governantes atentem para isso. Hoje eu não acredito na política armada, não acredito que um tanque na polícia pacificadora vai trazer paz e solução para a comunidade. Eu acredito na educação, na arte. Eu acho que esse é o caminho."

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