Em entrevista exclusiva para a Sputnik, o estudante de medicina contou um pouco da luta desde pequeno, aos 10 anos, quando começou a trabalhar para ajudar a mãe, que é ex-copeira, vendendo lanches na rua e iniciando assim a busca pela realização de seus sonhos entrando para uma concorrida escola pública federal do Rio de Janeiro.
"Desde a minha infância lá pelos meus 9, 10 anos, eu trabalhava com minha mãe vendendo lanches na rua. Eu estudava pela manhã e à tarde e à noite nós trabalhávamos vendendo lanches. Trabalhava eu, minha mãe e mais dois irmãos. Foi dessa forma que minha mãe conseguiu manter a criação de três filhos, e permitiu me preparar e prestar um concurso para entrar no Colégio Pedro II (escola pública federal conceituada no Rio). Trabalhar desde a minha infância com certeza me fez ser a pessoa que sou hoje."
Com formação construída em escolas públicas, Pablo Rodrigo contou que sempre gostou de estudar, por isso tinha certo destaque em relação aos outros estudantes, o que fez com que ele recebesse incentivos dos professores para seguir em frente em busca das melhores instituições de educação. "Fui aquela criança na escola um pouco chata com os professores porque não me contentava com o mínimo. Eu sempre estudei na escola pública do bairro durante todo meu Ensino Fundamental e sempre me destaquei. Por me destacar, eu recebi grande incentivo dos professores. Eles acreditaram em mim, me permitindo que eu me preparasse adequadamente para entrar não só no Colégio Pedro II, mas também na Faculdade de Medicina da USP."
A dedicação nos estudos proporcionou que Pablo Rodrigo Andrade da Silva passasse em sete vestibulares para medicina, mas as dificuldades financeiras para poder se manter em outro estado, inicialmente quase interromperam o sonho de cursar a desejada faculdade na Universidade de São Paulo (USP). Atualmente ele tem se mantido na faculdade através de um apoio financeiro dado pela própria universidade de Medicina da USP.
"Quando eu fui aprovado para a faculdade de Medicina da USP, eu fiquei naquele grande impasse de me mudar ou não. Eu tinha grande interesse de vir para cá, porque a faculdade de Medicina da USP se diferencia das outras não necessariamente por posição em ranking, mas sim por questões de oportunidades e aqui há muitas oportunidades, dentre as quais esse intercâmbio da faculdade com a Harvard. Vir para cá foi muito difícil, minha família não tinha nenhuma condição e o que eu fiz foi basicamente o que eu estou repetindo agora. Eu fui atrás e consegui apoio financeiro de muitas pessoas, inclusive de gente que eu nem conhecia e cabe aqui agora o meu agradecimento."
Sobre a nova conquista de Pablo, o futuro médico diz que o intercâmbio tem como foco principal a área de pesquisa, segmento no qual ele se encantou desde o Ensino Médio. "É um intercâmbio de pesquisa. Durante todo o meu Ensino Médio eu fazia pesquisa, através de iniciação científica júnior, já no primeiro ano. Eu comecei a fazer pesquisa na Fundação Oswaldo Cruz e me apaixonei e vi que era isso que eu queria para minha vida e somadas a outras experiências eu acabei optando pela medicina."
Até às 15h44 desta quarta-feira (26), 76 pessoas já tinham feito doações para ajudar Pablo a fazer o intercâmbio no exterior. 32% da meta pretendida pelo jovem já foi alcançada reunindo o valor de R$ 10.105. Confiante, o estudante agradece o apoio e diz que qualquer ajuda é bem vinda. "Eu fiz um crowndfunding, um vaquinha on line para doar qualquer valor. Eu estou na luta e acredito que vai acontecer."
Como retorno para o investimento de tantos desconhecidos pelo país, o estudante de medicina promete retornar ao Brasil com pesquisas que ajudem a desenvolver as terapias em torno de doenças como câncer e HIV/Aids. O intercâmbio que será realizado por Pablo Rodrigo é no laboratório Lu Lab, do professor Quan Lu, na Harvard T.H. Chan School of Public Health. A unidade é referência em estudos sobre a troca de vesículas entre células, bem como na tecnologia do CRISPR-Cas9, técnica que lida com a edição do DNA.
"Indo para lá eu vou desenvolver pesquisas em áreas insipientes aqui, áreas que versam sobre farmacologia e oncologia, sobre uma terapia alvo dirigida. No Brasil, infelizmente, esse tipo de pesquisa é insipiente. Também vou trabalhar com uma técnica de edição do DNA, também é insipiente aqui no Brasil, mas eu vou para o laboratório que participou do desenvolvimento dessa técnica. Eu acredito que vou trazer conhecimento e vai me ajudar a desenvolver ainda mais o lado cientista, que aquela criança lá do Ensino Médio um dia quis ser. Eu pretendo ser um cientista no meu país."
Mesmo enfrentando muitas dificuldades para estudar ao longo da vida, Pablo Rodrigo Andrade da Silva garante que toda a batalha vale a pena quando se trata de ir atrás dos seus sonhos. Por conta da exposição que vem ganhando com o financiamento coletivo na internet, o jovem estudante de medicina pretende também ser um exemplo para outros jovens não desistirem. "Eu quero empoderar jovens. Eu quero que as pessoas vejam que embora hajam muitas limitações na vida, você é capaz de superá-las."