A fala do general, no último domingo, foi feita em meio à escalada crescente de protestos e violência envolvendo opositores e defensores do regime, depois que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) decidiu adiar o referendo revogatório, marcado para o fim do mês, para consultar os venezuelanos sobre a permanência ou o afastamento de Maduro da presidência. O mecanismo do referendo popular para destituição de presidente é previsto na Constituição venezuelana e pode ser aplicado passado metade do mandato do Executivo desde que seja reivindicado por 20% da população. Em várias ocasiões, durante os protestos, bandeiras e cartazes dos defensores do regime traziam a inscrição "A Venezuela não é o Brasil".
Em seu pronunciamento, o ministro da Defesa foi enfático ao comentar as raízes das manifestações lideradas pela oposição, que detém hoje maioria simples na Assembleia Nacional:
"Seu verdadeiro propósito (as manifestações) não é outro senão afetar gravemente a institucionalidade do país mediante o caos e a anarquia, para finalmente derrubar o governo legitimamente estabelecido do senhor Nicolás Maduro Moro. Para nós, Maduro não é representante de uma parcela política, mas o presidente constitucional e comandante-em-chefe das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas, que exerce autoridade hierárquica e a quem reiteramos nossa incondicional lealdade… Quem, sob qualquer pretexto, pretender intervir no solo sagrado da pátria, topará com a férrea resistência dos filhos e das filhas de Bolívar e Chávez."
A Sputnik Brasil ouviu o vice-presidente do Clube Militar, no Rio, general Clóvis Purper Bandeira, que fez questão de ressaltar que o Clube não fala em nome do Exército ou das Forças Armadas, na medida em que é uma entidade de direito privado e seus sócios são, em sua maioria, oficiais das Forças Armadas. Segundo ele, os militares brasileiros têm acompanhado pela imprensa o agravamento da situação política e institucional na Venezuela que vem num crescendo preocupante.
"Ouvimos atentamente o pronunciamento do ministro, e isso vem sendo acompanhado pelo governo brasileiro, pelos órgãos de segurança e pelo Ministério das Relações Exteriores. É uma pena porque a situação se torna cada vez mais radicalizada e a violência nos parece estar por um triz. A qualquer momento ela pode recomeçar, pois já houve vários episódios e quanto mais avançar mais difícil fica de se chegar a um solução negociada."
Quanto ao fato de as manifestações na Venezuela trazerem faixas e cartazes com a frase "A Venezuela não é o Brasil", o general Bandeira minimiza o fato e lembra que aqui também, à época do impeachment, se dizia que "O Brasil não é Venezuela".
"Desconheço quais as previsões constitucionais venezuelanas a respeito de afastamento, de impeachment do presidente. No Brasil, tínhamos essa previsão bem clara na Constituição, foi feito um julgamento pelo Senado sob a presidência do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), tudo dentro do que a Constituição e nossas leis preveem. Essa (a inscrição nos cartazes venezuelanos) foi uma mensagem exagerada, mas destinada ao público interno."
Indagado sobre o posicionamento dos militares brasileiros a respeito de notícias que circulam na América do Sul sobre a instalação de uma base militar russa na Venezuela e em Cuba, o vice-presidente do Clube Militar disse não ter conhecimento do assunto.
"De vez em quando surgem notícias a respeito, principalmente envolvendo Cuba e Venezuela."