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Governo 'corta na própria carne', mas gasta R$ 600 mil para bancar show de samba

© Beto Barata / PRCerimônia de Entrega da Ordem do Mérito Cultural 2016
Cerimônia de Entrega da Ordem do Mérito Cultural 2016 - Sputnik Brasil
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Em um momento em que o governo tenta aprovar no Senado a PEC 55, que congela investimentos públicos por 20 anos, e o presidente Michel Temer diz que o "governo está cortando na própria carne", o Palácio do Planalto promoveu, na segunda-feira, 7, uma grande homenagem ao centenário do samba no Brasil. Custo da produção: R$ 612 mil.

O Ministério da Cultura contratou a Treco Produções Artísticas Ltda. por R$ 596.800 para produzir o evento fechado para 400 convidados. Em outro contrato, publicado pelo "Diário Oficial", foi informado o pagamento de R$ 15 mil à cantora Fafá de Belém, que interpretou o Hino Nacional na abertura da cerimônia. O ministério justificou a dispensa de ambas as licitações com o argumento de "contratação de artistas consagrados pela crítica especializada e/ou opinião pública." O show — no qual foram homenageadas 36 personalidades do samba, entre elas Dona Ivone Lara e Nelson Sargento — teve apresentações de Neguinho da Beija Flor, Márcio Gomes, Áurea Martins e André Lara.

Em entrevista à Sputnik Brasil, Juliano Medeiros, integrante da coordenação nacional do PSOL, diz que a homenagem é mais do que justificada, mas faz várias ressalvas ao evento.

"O samba merece todas as homenagens. É uma expressão genuína da nossa cultura, e no centenário do samba é natural que o governo promova atividades em homenagem. Não seria algo estranho, não fosse o fato de o governo, ao mesmo tempo em que promove uma festa de R$ 600 mil sem licitação, estar batalhando no Congresso Nacional para aprovar uma emenda à Constituição que prevê o congelamento de investimentos por 20 anos para saúde, educação, infraestrutura, habitação. O governo usa o discurso de que o país está quebrado e que, para reequilibrar as contas, é preciso estrangular qualquer investimento público, e gasta R$ 600 mil em um evento dessa natureza."

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Medeiros diz que o governo Temer está extremamente desgastado junto à classe artística. Pesquisa realizada entre 29 de julho e 1.º de agosto pelo Instituto Vox Populi revela que 79% dos entrevistados queriam a saída de Temer da presidência e 18% o retorno de Dilma Rousseff. Em outro quesito, 61% defendiam novas eleições. A sondagem foi feita com 1.500 pessoas em 97 municípios. Segundo Medeiros, ganhar terreno junto à classe artística é importante depois da tentativa de extinguir o Ministério da Cultura (MinC) e das ocupações da Funarte em todo o Brasil.

"Dona Ivone Lara e Nelson Sargento merecem todas as homenagens, mas a grande estrela dessa homenagem foi o Neguinho da Beija Flor, autor do samba do triplex, o mesmo compositor que defendeu o patrocínio de um ditador africano para sua escola (Teodoro Mbasogo, presidente da Guiné Equatorial), que cantou junto com Márcio Gomes, Áurea Martins e André Lara que podem ser conhecidos no Rio, nossa capital nacional do samba, mas são pouco conhecidos fora do Rio de Janeiro. Pagar R$ 600 mil para ouvir Neguinho da Beija Flor e nossa querida Fafá de Belém com sua interpretação já clássica do Hino Nacional nesse momento é uma coisa altamente questionável."

Com relação ao trâmite da PEC 55 nos dois turnos de votação no Senado e os objetivos da proposta, o coordenador do PSOL é enfático:

"O que a PEC pretende é retirar do Estado seu papel de indutor de desenvolvimento, de garantias dos direitos sociais para que o mercado possa assumir essas prerrogativas. É evidente que o país vive um momento difícil, que a economia internacional ainda vive um momento de recessão, mas a PEC se inscreve num contexto mais geral de alteração do caráter do Estado brasileiro. Nesse momento o governo ainda goza de uma maioria favorável no Senado, mas as mobilizações estão aumentando, há ocupação de mais de mil escolas, universidades federais, além de outras mobilizações de rua. Isso tudo aumenta a pressão sobre o governo e pode alterar esse cenário no Senado." 

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